Ainda há alunos em Ílhavo que trocam as aulas pela Ria

Câmara de Ílhavo aprovou o projecto Carta Educativa, que quer combater o abandono escolar precoce, que é superior à média nacional e aos concelhos vizinhos.

Um número ainda significativo de alunos do concelho de Ílhavo deixa precocemente a escola para se dedicar às actividades da Ria, admitiu esta terça-feira o presidente da Câmara, Fernando Caçoilo, a propósito da aprovação da Carta Educativa.

"Há uma parte de jovens que deixam de estudar para ir trabalhar. Isso ainda existe, infelizmente. Temos essa realidade, que tem a ver com o nosso território geográfico, em que vão para a Ria para ajudar a família e isso é um problema cultural que tem de se combater com o tempo", disse à Lusa Fernando Caçoilo.

O presidente da Câmara admite que o abandono escolar precoce é superior à média nacional e aos concelhos vizinhos, mas salienta que há uma década era superior em 20% e relaciona-o com os rendimentos proporcionados. "Um pai disse a uma directora de um agrupamento, que o chamou porque o aluno andava a faltar, para não se preocupar muito, porque o filho quando andava com ele a apanhar amêijoa ganhava mais do que a professora", exemplifica o autarca.

Fernando Caçoilo considera que é preciso uma mudança de mentalidades, mas atribui à escola e à família o principal papel porque "a Câmara é a entidade que menos peso tem de influência nessa matéria".

Esse é um dos fenómenos que a revisão da Carta Educativa, agora aprovada, identifica no seu diagnóstico, a par da perda de alunos para os concelhos vizinhos, ao nível do secundário. "Há, ao nível do ensino secundário, a transferência de alunos de Ílhavo para Aveiro, mas essa é já uma tradição. Mais de metade dos nossos alunos na idade escolar do secundário não estudam aqui", reconhece Fernando Caçoilo, o que atribui à atractividade e proximidade da capital do distrito e à ausência de oferta em Ílhavo de ensino profissional.

"Há toda uma tradição de ir estudar para Aveiro. Há pouco mais de 20 anos a Gafanha da Nazaré não tinha escola secundária, há cerca de vinte e poucos anos foi feita escola básica 2.3 da Gafanha da Encarnação, a EB 2.3 da Nazaré tem 30 anos. Há uma ligação histórica enraizada de irem para Aveiro e a atractividade que existe é um chamariz", explica.

Por outro lado, justifica Fernando Caçoilo, é em Aveiro que encontram a oferta de ensino artístico e de ensino profissional, neste último caso a par com outro município vizinho, Vagos, enquanto Ílhavo não tem. "Nós também não temos de ter tudo e tem de haver equilíbrio e bom senso", comenta.

A promoção do sucesso escolar e o combate ao abandono, bem como a conclusão da reabilitação do parque escolar são as três principais apostas da Carta Educativa para os próximos anos, para melhorar o panorama da Educação no Concelho e corrigir as orientações face às tendências demográficas.
 

Sugerir correcção
Comentar