O laboratório do Pedro tem gelados de azoto, fruta fresca e amor

Pedro Torgal Viana abriu um laboratório, mas estes tubos de ensaio não explodem. A loja do jovem em Alvalade, em Lisboa, aposta nos gelados feitos de azoto líquido e frutas naturais. "Clássicos, semi-arriscados e arriscados"

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Miguel Manso

Estamos num laboratório. Pelo menos tudo aponta nesse sentido — até aquele ene na parede que remete para a existência de azoto. Essa é a palavra-chave: azoto. Não é um laboratório convencional, nem sequer o quadro de uma aula de fisico-química. Estamos no Laboratório do Gelado sub 196 de Pedro Torgal Viana, que também junta na sua fórmula a palavra "amor".

O jovem lisboeta está a inovar o mercado dos sorvetes através dos gelados feitos na hora com azoto liquido. Com apenas 24 anos, já viajou por mais de quarenta países sendo que foi na Austrália, no ano passado, que descobriu a “pólvora” que o levou a abrir o seu próprio negócio.

196 graus negativos. É esta a temperatura a que está armazenado um dos componentes essenciais para a criação destes gelados. ”O gelado ganha uma consistência especial e cremosa e ao mesmo tempo o azoto líquido intensifica o sabor. A congelação é tão rápida que a fruta não perde as suas qualidades. Sofre uma alteração de temperatura um bocadinho mais brusca mas depois não mexo mais. Automaticamente, o azoto aniquila qualquer tipo de agente nocivo, bactérias e micróbios. Por isso, todas as vitaminas, incluindo as das frutas, ficam intactas”, explica Pedro ao P3.

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Ele queria "um produto exclusivo". Tradução: "Não usar produtos artificiais, usar frutas cem por cento frescas”. Para conseguir ter os sabores perfeitos, e gelados novos todos os dias, estudou todo o tipo de alimentos desde os mais estimulantes aos mais afrodisíacos. “Há dias em que entro em estado de loucura e faço seis ou sete sabores diferentes”, conta o "cientista".

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Dos mais pequenos aos mais graúdos, são muitos os que passam pelo número 21 da Rua José Duro e não conseguem ficar indiferentes: light, sem ovos, sem açúcar, sem glúten e até para intolerantes à lactose. Há opções para todos. “Divido os gelados em três categorias: os clássicos (morango, chocolate e limão), os semi-arriscados (caramelo c/ toque suave de whisky ou castanha caramelizada) e os arriscados (alfazema, batata doce e jaca – fruta tropical brasileira que tem um sabor muito particular)”, explica o jovem empreendedor.

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“Tenho 12 sabores fixos”, continua. "São sabores quase obrigatórios. Em Portugal, está tudo muito preso ao tradicional. Quando estive na Dinamarca, vi que era tudo diferente. Se pusesse ali [aponta para a ardósia] o sabor alfazema, os dinamarqueses adorariam. Os portugueses só terão referência de três coisas: o armário da avó, um sabonete ou um campo de alfazema no Alentejo”.

Cada gelado custa três euros e corresponde, aproximadamente, a três bolas.

Era uma vez o "Euromilhões"

Depois de tirar o curso em Gestão Hoteleira, Pedro quis fazer uma viagem gastronómica. “Lá fora aprende-se sempre mais do que cá dentro. Gosto de conhecer os variados mercados e produtos que existem. Acho que em Portugal somos muito retrógrados. Tudo chega mais tarde, à excepção da tecnologia. Há tendências, modas, comidas (sushi ou gin, por exemplo) que já existem lá fora há 20 ou 30 anos e que só chegaram recentemente aqui. E fizeram furor”, explica.

Foi na Austrália, onde estagiou no restaurante Attica com três estrelas Michelin, que se deparou com a massificação da qual fez projecto. “Já conhecia o gelado de azoto líquido, mas não pensava que fosse possível fazer em larga escala para o consumo de várias pessoas por dia. Olhei e pensei 'é isto que vai ser o meu futuro. Encontrei o meu bilhete do Euromilhões no chão”'. O primeiro passo foi o mais difícil. "Como vou pedir 50 mil euros aos meus pais?", revela. Depois de uma apresentação sólida do seu projecto, os seus pais decidiram financiar a sua aventura.

Aberto há sensivelmente dois meses, o Laboratório do Gelado sub 196, funcional entre as 13h e as 19h de terça a domingo, conta com um serviço take away possível de consultar no seu Facebook.

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