Edgar Silva: A “ideologia dos determinismos” e “das fatalidades não vai vencer”

O candidato apoiado pelo PCP andou durante cerca de uma hora na Graça em Lisboa. Falou com gente de todas as idades, entrou em todas as lojas. Abril terá sido uma das palavras mais gritadas pelos apoiantes.

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Apoiantes de Edgar Silva Guilherme Marques
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Edgar Silva discursa no Largo da Graça Guilherme Marques
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“Edgar avança com toda a confiança!” Os apoiantes mal deixam ouvir o que o candidato presidencial Edgar Silva vai dizendo às pessoas. Ainda por cima, o ex-padre fala baixinho. Há bandeiras de Portugal e há bandeiras do candidato a agitarem-se no ar. Umas são vermelhas, outras verdes. Há gaitas-de-foles e tambores. Também há confusão no trânsito por causa da acção de campanha e pessoas que pedem licença para passar, estão com pressa para ir para casa. Há de tudo como numa arruada, mas a candidatura apoiada pelo PCP prefere chamar-lhe acção de contacto com a população. São 17h30, ainda há muita luz no bairro da Graça, em Lisboa, quando o comunista começa a andar. Entra em cafés, floristas, restaurantes, lojas de roupa, oculistas. Distribui beijinhos, deseja bom ano.

“Queremos solução, cumprir a Constituição!”, continuam a gritar os apoiantes. A caminhada que Edgar Silva fez nesta terça-feira no bairro da Graça durou cerca de uma hora. No final, no largo, discursou e apelou ao voto na mudança nestas eleições presidenciais. “A ideologia dos determinismos e a dogmática das fatalidades não vai vencer”, afirmou. Mostrou satisfação com a forma como tem sido acolhido nas ruas, mas alertou: “Só simpatia não enche barriga.” É preciso ir às urnas no dia 24: “Isto tem de dar frutos no dia dos votos.” É preciso, defendeu, decidir “outro rumo” para o país. E a “viragem” que Edgar Silva promete a quem com ele se cruza nas ruas é a de fazer “triunfar” os “valores” de Abril. “Está nas nossas mãos. É na mão de cada homem, de cada mulher, é na tua mão que o futuro novo do país será decidido”, apelou, diante do microfone.

Durante a arruada, os apoiantes não param de gritar: “Abril vencerá.” Edgar Silva aproxima-se de gente de todas as idades, até há quem sorria e lamente: “Só tenho 16 anos.” Há quem não saiba o nome do candidato ou em quem vai votar, mas também há os decididos. É o caso de Susana Estronca, de 37 anos, delegada comercial. Garante-lhe o voto. Ao PÚBLICO, explica porquê: “Acredito que será um presidente honesto. Não me parece ser como Marcelo Rebelo de Sousa que é um comentador que politicamente pouco pode fazer pelo país. Edgar Silva pode representar uma viragem”, diz.

“Somos muitos, muitos mil para continuar Abril”. Os apoiantes vão tentando mudar as frases e palavras de ordem. E vai escurecendo à medida que a arruada avança. Edgar Silva pergunta às pessoas se vivem no bairro, o que fazem, como vão as vendas. Faz uma festa no cabelo de uma miúda, acena a outra que está às cavalitas do pai. Pergunta à dona de um cão se ele faz mal. Não faz e até fica entusiasmado no meio de tanta confusão, enrola-se nos fios dos microfones dos jornalistas. A dona ri-se e recebe um folheto de Edgar Silva que já está, porém, a conversar com outra pessoa: “Posso contar consigo? A ver se isto muda.”

“Olha o meu avô”
“Abril de novo com a força do povo.” As palavras que os apoiantes fazem ecoar pelas ruas da Graça mudam ligeiramente, mas a mensagem mantém-se. Um senhor conta ao candidato madeirense que a neta, pequenina, olhou para o cartaz do candidato apoiado pelo PCP e disse: “Olha o meu avô.” O antigo padre dá beijos e recebe alguns: “Não se preocupe, vou votar em si.” Mas também ouve outros conselhos: “É preciso é apoiar Sampaio da Nóvoa na segunda volta.” O membro do Comité Central defende que agora o que é preciso é votar no dia 24. Mas quer chegar à segunda volta. A meio da arruada, junta-se ao candidato o deputado do partido Ecologista Os Verdes, José Luís Ferreira. Abraçam-se.

A arruada não começou no melhor tom. A primeira mulher com quem o candidato comunista se cruza atira-lhe com o discurso de que os políticos são todos iguais. No meio de alguns palavrões, diz-se mesmo saudosa de outros tempos – tempos em que Portugal não vivia, porém, em democracia. Não colheu eco, pelo contrário: à volta dela, ergueram-se vozes zangadas, ouviu apupos. E as pessoas de autocolante ao peito e bandeiras no ar seguiram caminho. No percurso, Edgar Silva até encontra uma madeirense que lhe pergunta: “Não se lembra de mim?”

Nos folhetos, alguns colados nas ruas do bairro, a arruada prometia contacto com os comerciantes. E, de facto, Edgar Silva, entrou em todas as lojas. No meio da confusão dos apoiantes e dos jornalistas, era complicado ouvir tudo o que dizia. Mas prometeu lutar pelos direitos dos trabalhadores. E foi desejando: “Que sejam boas as vendas.” Ao fundo, começa a surgir o Largo da Graça, onde vai discursar. Ouve-se a guitarra de Carlos Paredes, os Verdes Anos. Edgar Silva aproxima-se do microfone: “Amigos, amigas, camaradas”, começa por dizer. E, antes de se ouvir o hino, eleva o tom de voz, bem mais alto do que o habitual, e afirma: “Que ninguém descanse até dia 24!”

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