Juventude, de Paolo Sorrentino, é o filme europeu do ano

Charlotte Rampling e Michael Caine foram considerados os melhores actores. Vasco Pimentel e Miguel Martins foram premiados pelo som de As Mil e uma Noites

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Paolo Sorrentino, melhor filme, melhor realizador: Juventude AFP / John MAC DOUGALL
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No filme de Sorrentino, a personagem de Caine é um músico e maestro que se retirou porque as suas composições não podem mais ser interpretadas pela mulher,
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Charlotte Rampling e Michael Caine: os actores europeus do ano AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL
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45 Anos, a paisagem conjugal (Rampling e Tom Courtenay tinham sido premiados em Belim)
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Christoph Waltz, contribuição europeia para o cinema mundial AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL
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As Mil e uma Noites: melhor som

Juventude, de Paolo Sorrentino – neste momento em exibição em Portugal – foi considerado, neste sábado, em Berlim, o melhor filme europeu do ano. E o cineasta italiano o melhor realizador. E Michael Caine, pelo mesmo filme, o melhor actor. É um remake da edição de 2013, em que Sorrentino foi o melhor realizador e A Grande Beleza o melhor filme (Toni Servillo, nesse ano, foi o melhor actor).

Os britânicos celebraram uma dupla distinção para a sua cinematografia, nesta 28ª edição dos prémios que resultam das escolhas dos três mil profissionais da Academia europeia de cinema presidida por Wim Wenders: as designações de Michael Caine e Charlotte Rampling como melhores actores, por, respectivamente, Juventude (onde Caine interpretada um compositor retirado) e 45 Anos, de Andrew Haigh (estreia portuguesa marcada para o último dia do ano).

Caine, 82 anos, receberia ainda um Prémio Honorário (“Bem, que surpresa, passaram-se 50 anos, nunca recebi um prémio na Europa e agora numa noite recebo dois”, disse, relata o Guardian). Charlotte, 69 anos, o Lifetime Achievement Award. Houve cinema português nos prémios europeus: o melhor som foi o que "desenharam" Vasco Pimentel e Miguel Martins em As Mil e uma Noites.

Christoph Waltz, o vilão de Spectre, o novo James Bond, receberia uma algo tonitruante recompensa, a de uma contribuição (europeia) para o cinema mundial – em filmes como Inglourious Basterds ou Django Unchained. Waltz terá relativizado tudo, é claro, o pudor fica bem: sente-se “honrado para além do compreensível” mas diz que tem sido tudo “sorte”.

O Guardian descreve a cerimónia de ontem e as conferências de imprensa, que se lhe seguiram, com os vencedores. Caine pôs de lado qualquer atitude paternalista que pudesse ser desculpada pela idade e experiência. “Digo sempre a um actor: ‘Não oiçam os conselhos de outros actores, especialmente se eles são mais velhos. Porque quando eu era muito jovem, pedi conselhos a actores mais velhos e todos eles me disseram: ‘Desiste, não sabes representar e tens um sotaque horrível’”.

O ponto de vista de Charlotte Rampling – uma mulher e a morte, literal e metafórica, que entra no seu casamento, em 45 Anos, filme sobre a paisagem conjugal que será uma das boas memórias de 2015 – é semelhante. Também não teve muitos prémios (este papel já lhe valera, de qualquer forma, o galardão de interpretação em Berlim, ex-aequo com o seu “marido”, o actor Tom Courtenay) mas isso, disse, não é o que lhe interessa. Motiva-a a construção e a experiência. “Não se engana uma audiência com uma série de coisinhas. É preciso que tudo isso leve a algum sítio.”

Charlotte recebeu ainda o Lifetime Achievement Award, e das mãos do realizador francês François Ozon. Faz sentido, houve um belo encontro entre os dois há anos quando ele lhe ofereceu Sous le Sable (2000), nos 55 anos dela. Diz-se que o prémio de interpretação vai ajudar a campanha que a produção de 45 Anos faz neste momento para ver Charlotte nomeada para os Óscares, depois de ter sido ignorada pelos Globos de Ouro.

Wim Wenders, o presidente da Academia, sublinhou que os filmes não devem estar afastados do mundo em que vivemos - foi uma cerimónia cheia de textura política, segundo o Guardian. Recordou  a “tirania” do Muro de Berlim. “Parece que estamos a regressar ao passado e não podemos deixar isso acontecer. Devemos levantar-nos e lembrar que o medo nunca originou nada de bom.” Sorrentino disse que Juventude é “um pequeno filme sobre a percepção da liberdade, a tema mais actual do que nunca na Europa.”

A Europa, ainda, nas palavras de Charlotte Rampling: “Esta noite confirma um sonho que sempre tive. Quando era uma jovem actriz em Inglaterra no início dos anos 70, atravessei o Canal e quis juntar esforços com a Europa. Sempre senti a importância da mélange e da diversidade da Europe, sempre senti que se não deixasse a Inglaterra para vir trabalhar para o Continente estaria a perder algo de muito vital e não partilharia coisas com outras pessoas”.

O mesmo ecoou nas palavras do apresentador da cerimónia, Thomas Hermanns, que definiu a liberdade como “a ligação de uns aos outros” e declarou: “não há arte sem inclusão.” Daniel Bruhl, actor alemão, homenageou no palco Oleg Sentsov, o cineasta ucraniano preso da Rússia depois de um julgamento que a Amnistia Internacional descreveu como digno da era estalinista.

Amy, de Asif Kapadia, sobre Amy Winehouse, foi considerado o melhor documentário. O prémio de melhor argumento foi para Lobster, de Yorgos Lanthimos, e o de comédia para A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence, de Roy Andersson – filme, o último da chamada Trilogia dos Vivos, que segundo o realizador foi completamente incompreendido no seu país, a Suécia. “Isso foi frustrante, mas agora já não é. É um filme tão apreciado no mundo inteiro que a Suécia já não é importante”. A Trilogia dos Vivos teve este ano estreia integral nas salas portuguesas.

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