Angola, um triste simulacro de justiça

Se há coisas que, por si só, denigrem "a imagem e o bom-nome" de Angola, são processos como este.

O regime angolano está muito incomodado com o que opinião pública internacional pensa, diz e escreve acerca do julgamento dos activistas que levou ao banco dos réus. A Assembleia Nacional de Angola entendeu (por 145 votos a favor, 27 contra e duas abstenções) responder com uma resolução indignada ao Parlamento Europeu, que em Setembro aprovara uma outra resolução (550 votos a favor, 14 contra e 60 abstenções) apelando às autoridades de Luanda para que libertassem “imediata e incondicionalmente” os activistas detidos. Isto em nome dos direitos humanos. Ora a resolução angolana diz que a europeia “viola flagrantemente os princípios da boa-fé e da não-ingerência nos assuntos internos, da igualdade de Estados”, põe em risco as boas relações entre Angola e as instituições da UE (e os cidadãos dos seus Estados-membros!) e chega a sugerir que ela configurará “crime público pela legislação angolana” (sic). Não se percebe. O Parlamento Europeu, composto por deputados de vários partidos dos vários países, tem o direito de aprovar as resoluções que quiser, tal como o regime angolano tem o direito de recusar atender quaisquer pedidos nelas expressos. Sucede que os hábitos herdados dos partidos únicos, que tão mal fizeram a Angola (ao da ditadura colonial sucedeu o MPLA e a sua sede de tudo dominar), levam a que uma coisa tão simples quanto a liberdade de opinião internacional seja vista como ataque, afronta ou tentativa de denegrir “a imagem e o bom-nome” do país. Se há coisas que, por si só, sem ajuda de nenhuma força externa, denigrem a imagem e o bom-nome de Angola, são processos como este (infeliz até à caricatura) ou as terríveis torturas, julgamentos sumários e fuzilamentos do seu passado pós-colonial. Um país que não teve ainda coragem de enfrentar esse passado e expiar tais crimes não pode, agora, portar-se como uma nação apaziguada. Daí os chavões intolerantes e este triste simulacro de justiça.

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