Áreas que geram mais emprego têm falta de trabalhadores qualificados

Estudo da consultora Hays conclui que Portugal é um dos cinco países onde as empresas têm mais dificuldade em encontrar os recursos de que necessitam. Turismo, tecnologias da informação e engenharias são as áreas com maior escassez

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O turismo é uma das áreas onde as empresas estão a ter dificuldades em recrutar pessoal altamente qualificado. José Fernandes/Arquivo

Portugal não está a conseguir formar profissionais qualificados em número suficiente para responder às necessidades das empresas, sobretudo no turismo, nas tecnologias da informação e nas engenharias associadas à indústria. Esta escassez de trabalhadores para as áreas que estão a gerar mais emprego, alerta a Hays (uma consultora de recursos humanos), está a travar o desenvolvimento do mercado de trabalho nacional.

Num relatório divulgado nesta segunda-feira, a Hays coloca Portugal entre os países com maiores problemas de ajustamento entre as competências dos trabalhadores e as necessidades das empresas - ao lado de Espanha, Irlanda, Japão e Estados Unidos – e onde a pressão para os empregadores pagarem salários acima da média é mais elevada, porque só assim conseguem recrutar e reter os melhores.

Para Carlos Maia, director regional da Hays em Portugal, este problema “continua a ser o grande travão do dinamismo no mercado de trabalho português, impedindo as empresas de aumentar as suas estruturas de acordo com os seus planos de expansão e crescimento”.

“A falta de diálogo entre as instituições de ensino e os empregadores em Portugal tem gerado, nos últimos anos, um enorme excedente de profissionais qualificados em áreas de pouca empregabilidade, enquanto milhares de vagas de emprego permanecem em aberto por falta de candidatos”, acrescenta em declarações ao PÚBLICO. O resultado é que nas áreas que estão a criar mais emprego - tecnologias da informação, engenharia e turismo – “não estão a ser formados profissionais suficientes para o nível de procura actual”.

Carlos Maia reconhece que a “fuga de profissionais para o estrangeiro veio agravar o problema”, mas essa saída “será mais uma consequência do que uma causa deste desequilíbrio de competências”. “Se é verdade que muitos destes profissionais são atraídos pelos valores salariais e condições oferecidas noutros países, também é um facto que muitos dos que emigraram fizeram-no por não encontrarem oportunidades na área onde se formaram e onde esperavam poder construir uma carreira”, refere.

Desemprego de longa duração é ameaça
A Hays alerta ainda que o desajustamento de competências pode ser agravado pela elevada incidência do desemprego de longa duração, que no segundo trimestre de 2015 afectava 64% dos 620 mil desempregados apurados pelo Instituto Nacional de Estatística. 

Para o director regional da empresa, “algo está errado num mercado de trabalho em que tantos desempregados de longa duração coexistem com milhares de vagas de emprego por preencher”. E tenta encontrar algumas explicações para isso: “De algum modo, estes profissionais no desemprego parecem não ter as competências específicas que os empregadores procuram neste momento”.

A aposta tem de ser na  requalificação de alguns destes profissionais. Mas esse “será um processo longo, e nunca fácil”. “Até lá, o desequilíbrio mantém-se e coloca uma enorme pressão nas instituições de ensino e sobretudo nos empregadores, que precisam de recrutar com urgência. Na prática, as empresas estão neste momento à procura de competências que, na melhor das hipóteses, se encontram ainda em fase de formação ou de requalificação”, lamenta.

O desajustamento entre as qualificações dos trabalhadores e as necessidades das empresas é uma das componentes do Hays Global Skills Index, um indicador que mede as dificuldades do mercado de mão-de-obra qualificada em 31 países, atribuindo-lhes uma pontuação de zero a dez (em que dez é a nota mais negativa). Este indicador resulta da análise de outras seis componentes, como a flexibilidade do sistema de educação para se adaptar às necessidades das empresas; o nível de participação no mercado de trabalho; a flexibilidade da legislação laboral; as pressões salariais globais; as pressões salariais nas ocupações altamente qualificadas e na indústria que necessita dessa mão-de-obra.

O relatório destaca os desenvolvimentos positivos registados em quatro países entre 2014 e 2015. Portugal é um deles (ao lado da Austrália, do México e do Chile). A Hays realça o ligeiro crescimento económico, a diminuição do desemprego e a melhoria dos indicadores relacionados com a flexibilidade do sistema de ensino e do mercado de trabalho.

Contudo, essas melhorias não foram suficientes para anular o facto de o país ter uma pontuação máxima no desajustamento entre oferta e procura e na pressão salarial registada nas ocupações altamente qualificadas. É isso que faz com que, no índice global da Hays, Portugal continue com 5,9 pontos tal como em 2014 e que seja um dos 11 países com uma pontuação mais negativa. Pior do que Portugal estão, por exemplo, os Estados Unidos, a Suécia, a Espanha ou a Alemanha. Os melhores são a Bélgica, a Itália e Hong Kong.

O desajustamento entre a oferta e a procura é de resto um problema patente nos relatórios mensais do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). A maioria dos desempregados inscritos nos centros de emprego (86%) tem baixas qualificações, mas quando se olha para o número de colocações efectuadas e as ofertas de emprego que ficam desertas, também aqui parece não haver casamento entre as competências dos candidatos a emprego e as necessidades das empresas.

Os dados mais recentes mostram que, em Setembro, os centros de emprego receberam um pouco mais de 17 mil ofertas de emprego, mas só colocaram 11.757 desempregados, tendo ficado desertos 5246 lugares. No final do mês, o IEFP tinha 20.752 ofertas de emprego disponíveis.

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