Acesso ao Ensino Superior em 2015: desafios e oportunidades

Temos de saber preparar os nossos alunos para o desafio global que nos é pedido.

A divulgação das listagens de ordenação das colocações no Ensino Superior surge todos os anos como um conjunto de números e estatísticas. No entanto, penso que é importante não perdermos o horizonte de que se trata de um momento alto e único para o país, em particular para muitos estudantes e suas famílias, que vêem uma nova geração iniciar a sua educação superior.

Portugal efetuou, nos últimos vinte a trinta anos, uma aposta séria no conhecimento, de que resultou uma oferta universitária sólida e reconhecida internacionalmente, mas que dá sinais de vários desajustes face às necessidades atuais e às que se perspetivam para o futuro próximo.

O empenho no desenvolvimento do Ensino Superior e na qualificação dos portugueses assenta num notável consenso político da sociedade portuguesa, patente no facto de todos os governos da Democracia (do I ao XIX) terem destacado o investimento no ensino universitário e no ensino politécnico nos seus programas. Reflexo desse investimento é o facto de, nos últimos 25 anos, o número de licenciados por ano ter quadruplicado. A grandeza destes números não deve, porém, afastar-nos do facto de que Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer na qualificação dos seus jovens – o rácio de licenciados na população ativa está ainda sete pontos percentuais abaixo da média da UE28 (i.e., menos 17%), e ainda longe da meta de 40% estabelecida para o ano 2020.

Os últimos anos, particularmente após a crise financeira de 2008, representaram um período de especial desafio para o Ensino Superior nacional. Em particular, a vaga emigratória verificada desde então e o aumento da taxa de desemprego, e principalmente da taxa de desemprego jovem (cujo valor chegou a aproximar-se dos 40%), abalou pela primeira vez na nossa história o consenso nacional sobre a capacidade da formação superior garantir um futuro melhor aos nossos jovens. A título de exemplo, será importante ter presente que, nos últimos 25 anos, os únicos em que o número anual de diplomados registou uma quebra ocorreram precisamente no período pós-2008.

Nesse sentido, a confiança das famílias e dos jovens no valor do título académico para a garantia de um futuro melhor ficou seriamente abalada, afetando negativamente o compromisso da sociedade portuguesa face ao Ensino Superior. Contudo, os dados de 2015 conhecidos na madrugada de domingo, sugerem uma inversão, dado que o número de candidatos e de colocados no ensino superior aumentou, o que é muito positivo.

Os factos sustentam que os licenciados beneficiam hoje de um risco de desemprego inferior à média da população e auferem rendimentos significativamente superiores. Penso, porém, que as inquietações das famílias e da sociedade acerca do real valor do Ensino Superior que subsistem devem obter uma resposta, no sentido do amadurecimento de uma estratégia de mudança no Ensino Superior português cujo foco seja o Estudante e o ensino de grande qualidade que desenvolva as competências dos estudantes em ‘saber-fazer’ e ‘saber-ser’ e não apenas no ‘saber-saber’. Para além da necessidade de formar bons profissionais, o sistema tem de formar boas pessoas.

Portugal necessita de um sistema de Ensino Superior que se foque mais no potencial dos seus Estudantes e que se abra ainda mais ao mundo. A Escola Universitária tem de ser capaz de dotar os estudantes dos conhecimentos de cada área científica, mas igualmente de um conjunto de competências pessoais e sociais que tornem os Estudantes, além de profissionais capazes, em cidadãos ativos e agentes de mudança. Essa mudança, que conheço de perto por ter sido particularmente forte na minha área de formação – Economia e Gestão –, não deve ser contida nesta ou naquela área, mas sim atravessar toda a Universidade – o país e o mundo não necessitam apenas de bons médicos, engenheiros e economistas, mas verdadeiramente de todos os agentes do conhecimento – das Humanidades às Ciências, das Artes à Gestão, da Saúde ao Pensamento.

Portugal pode e deve beber das melhores experiências internacionais, quer na formação nas chamadas soft skills, quer na formulação de cursos de licenciatura dupla (double majors). Tal como noutros sectores, a internacionalização da nossa Educação é fundamental.

A atração de investimento direto estrangeiro para o sector da Educação e, em particular, para o Ensino Superior, de que a Universidade Europeia é um exemplo paradigmático, deve representar uma aquisição por parte do país, não apenas de capital e de investimento financeiro, mas essencialmente de conhecimento e de saber-fazer a par com as melhores práticas internacionais, bem como o acesso a redes mundiais de universidades, que nos permita atingir novos patamares de excelência e oferecer ao país e aos jovens portugueses a formação que torne o seu futuro (e o nosso futuro) mais promissor.

Numa altura em que se completam os 500 anos do início da globalização, propiciada pelo nosso país nos Descobrimentos, confio que Portugal, os jovens portugueses e o Ensino Superior português conseguirão dotar-se dos meios e das estratégias que lhes permitirão, novamente, dar um salto decisivo para o mundo.

Professor Catedrático, reitor da Universidade Europeia

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