Os mesmos de sempre

François Hollande, essa criatura abjecta, foi logo fazer a sua corte ao velho senil e assassino Fidel.

S.S. o papa Francisco foi originalmente um jesuíta, que na América Latina representava a esquerda católica e, quando o elegeram no último conclave, escolheu o nome do “poverello” de Assis para deixar bem claro de que lado estava. Barak Obama, o candidato do “liberalismo” representou desde o princípio as minorias da América contra o conservadorismo branco. Não admira que os dois decidissem cooperar para que se levantasse o “embargo” de que há 50 anos, sem razão alguma, sofriam 11 milhões de cubanos. Verdade que as coisas não estão ainda consumadas, mas com a morte (com certeza próxima) de Fidel podem melhorar e trazer aquele desgraçado país, congelado no tempo, à idade moderna. Na política doméstica, o papa Francisco tem uma influência decisiva em meia dúzia de matérias; e, se os republicanos não o impedirem, Obama é capaz de limpar os restos do regime, sem violência e com um módico de justiça.

Por acaso, li recentemente os livros de Leonardo Padura: “O homem que gostava de cães” (uma nova versão do assassinato de Trotsky, já traduzida em português) e, sobretudo, a série Mário Conde, um polícia-escritor, que se vai pouco a pouco transformando num investigador privado. Padura não é um grande escritor e a personagem de Mário Conde deve muito ao Pepe Carvalho de Vásquez Montalbán. De qualquer maneira, a miséria, a arregimentação, a violência e a asfixia de Cuba, onde não há nada a esperar e a vida lentamente apodrece, perpassa nos romances de Padura, como a agonia de uma nação inteira. Agonia, de resto, inútil, porque a partir de 1990 o dinheiro russo começa a acabar e as pessoas vivem à procura de um alfinete, de um fósforo, de uma cerveja ou, literalmente, de um bocadinho de luz (entre apagões).

Nessa altura, dezenas de portugueses resolveram ir observar aquele paraíso “dólarizado”, em que a classe média se prostituía e eles se pavoneavam fumando charutos e frequentando as praias, os bares e os restaurantes para turistas. Suspeito que gostaram; e sei que nenhum abriu a boca para contar o que vira. Agora, com a hipocrisia do costume, acordaram para um mundo diferente. François Hollande, essa criatura abjecta, foi logo fazer a sua corte ao velho senil e assassino Fidel. E, em Roma, Raúl Castro, hoje o homem forte da ditadura, anunciou que se preparava para rezar ao Altíssimo por S.S. o papa Francisco, que tanto tinha ajudado Cuba. A esquerda cá de casa delirou. São os mesmos de sempre.

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