“Achámos que a música que fazemos podia ganhar se fosse tocada com orquestra”

Esta segunda-feira na Casa da Música e terça-feira no CCB, os Danças Ocultas tocam com a Orquestra Filarmonia das Beiras e convidam Carminho, Rodrigo Leão e os Dead Combo.

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Danças Ocultas em concerto NFACTOS/FERNANDO VELUDO

Quem se acostumou a ver e ouvir os Danças Ocultas em palco apenas com as quatro concertinas e, esporadicamente, alguns convidados, vai assistir agora a um desafio maior.

Primeiro no Porto, na Casa da Música (esta segunda-feira, às 21h), e depois em Lisboa, no CCB (terça-feira, à mesma hora), o grupo tocará com a orquestra de câmara Filarmonia das Beiras e terá como convidados Rodrigo Leão, Carminho e os Dead Combo. Todos num mesmo espectáculo. A orquestra, explica ao PÚBLICO Filipe Cal, um dos membros do grupo, é já uma ideia antiga. “A música que fazemos, até por ser instrumental, podia ganhar alguma coisa, em particular alguns temas, se fosse tocada com orquestra.” Faz sentido, até pela génese no grupo, desde o final dos anos oitenta.

“Isto nasce porquê? Porque éramos miúdos, no Conservatório, com um problema com o instrumento que tocávamos. Até que o Artur, que é corajoso, conseguiu juntar ali quatro concertinas. E as primeiras coisas que tocámos foram até de música erudita.” E nos anos seguintes, a lógica do grupo seguiu a lógica dos quartetos de cordas: Filipe Cal faz as harmonias, Artur Fernandes e Francisco Miguel as melodias e Filipe Ricardo toca uma imponente concertina baixo. “Agora quisemos amplificar os nossos papéis para cada um dos naipes de orquestra. Mas sem uma transcrição linear, que seria pouco interessante.”

Isto levou-os a olhar para o seu repertório e a afinarem escolhas. “Há temas que nós praticamente nunca tocámos ao vivo, como Pandora ou Quatro ilusões. Ora a Pandora, que gravámos no disco Pulsar, é feita praticamente para orquestra. E agora vai ser mesmo ser tocado pela orquestra, que aliás toca sozinha três temas: os dois já citados e Hinos à noite.” Quanto à participação de Rodrigo Leão, ela também se justifica por várias razões. “Ele está ligado a isto desde o início, aliás fez a tropa com o Artur. E foi exactamente por isso que o Artur passou uma maqueta ao Rodrigo e o Rodrigo passou-a ao Gabriel [Gomes, dos Sétima Legião], que produz os nossos primeiros discos.” Mas há também parentescos ao nível da sonoridade. “Tocaremos, juntos, um tema dele, As tardes de Bolonha, de que gostamos muito, e um tema nosso, que é a Dança de Alba.”

Quanto à fadista e cantora Carminho, será a voz d’O diabo tocador. “A versão que nós fazemos é inspirada numa melodia tradicional, A canção da roda. E originalmente ela é cantada. Por isso tivemos a ideia de voltar a fazê-la canção. Porquê a Carminho? Porque é uma canção de trabalho e a Carminho, dentro do espectro das cantoras que nós temos, com aquela voz mais grave, achámos que era a escolha mais adequada.”

A escolha dos Dead Combo também foi “absolutamente musical”, diz Filipe Cal. “Há uma música, que é talvez das mais sombrias que nós temos, Esse olhar, que é mesmo a cara deles. Os ostinatos, as pausas, aquilo tudo estendido, tem a linguagem dos Dead Combo. E é o único tema que nós não fazemos com orquestra. Somos só nós e eles.”

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