O nosso eclipse

Portugal é cada vez mais (a nossa maneira portuguesa de dizer "sempre foi") parcial.

É a austeridade; a miséria do costume: "Eclipse total do Sol será apenas parcial em Portugal". Isto no próprio sol.pt.

Pior ainda foi dactilografar Eclipse em Portugal e ir dar a um filme português de 2014 com o mesmo nome ao qual 71 utentes do IMDb deram uma média de 4,6.

As médias da IMDb estão para a bondade de um filme como o preço dos diamantes está para a qualidade mediana de vida dos países de onde provêm: a maioria de maus filmes tem médias acima do 7.

Pior ainda é que, segundo o software fucked up do IMDb, as pessoas que gostaram de Eclipse em Portugal (talvez nenhumas?) "também gostaram" de Sangue do Meu Sangue, o filme de 2011 de João Canijo. No IMDb teve uma média de 7,5 de 1244 utentes, para não falar de 43 críticas profissionais e 10 amadoras, todas positivas.

Eclipse em Portugal só teve uma crítica de um amador que não o amou nada e deu o tempo de vê-lo como perdido.

Portugal é cada vez mais (a nossa maneira portuguesa de dizer "sempre foi") parcial. O nosso próprio eclipse, como povo, cultura ou mau filme, nunca é total. Nunca é definitivo. Resta sempre na boca o sabor acre de velhas esperanças regurgitadas.

Olhemos hoje de manhã para o Sol, através das nuvens, para perceber que até os eclipses totais são relativos e passageiros. Assim acontece também com o declínio e a decadência de Portugal e dos portugueses: o mal é de tão longa duração, com tão curta aparência, que acaba por ser como começou: como a nossa condição.

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