Testemunha ouviu quatro tiros no duplo homicídio em S. João da Pesqueira

Desde a primeira sessão que o advogado de Manuel "Palito" tem tentado provar que o tiro que atingiu a filha do arguido foi acidental e que houve três disparos e não quatro.

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PÚBLICO/ Arquivo

Uma testemunha disse esta segunda-feira, em tribunal, ter ouvido quatro tiros na tarde em que o presumível homicida de S. João da Pesqueira, Manuel Baltazar, terá matado duas mulheres e deixado feridas outras duas.

Manuel Baltazar, que completa 62 anos esta segunda-feira, está acusado de ter disparado uma arma tipo caçadeira contra a filha e a ex-mulher (Sónia Baltazar e Maria Angelina Baltazar, que ficaram feridas) e duas familiares desta (a tia e a mãe, Elisa Barros e Maria Lina Silva, que morreram), em Valongo dos Azeites, a 17 de Abril de 2014.

Na quarta sessão do julgamento, foi ouvido Maurício Ferreira, que andava a trabalhar numa obra perto do local dos crimes, uma casa com um forno onde as quatro mulheres estavam a fazer bolos para a Páscoa.

Maurício Ferreira contou que ouviu um tiro de caçadeira e, "passados uns segundos, outro tiro", tendo de seguida ido com dois colegas ver o que se passava. No local dos crimes, viu Manuel Baltazar e a filha a disputarem a caçadeira, sendo esta arrastada pelo pai. Depois, ele e os colegas fugiram e, na altura em que estavam a entrar numa garagem com o objectivo de se refugiarem, ouviu mais dois tiros, também separados por segundos.

Desde a primeira sessão que o advogado de Manuel Baltazar (conhecido por "Palito"), Manuel Rodrigues, tem tentado provar que o tiro que atingiu Sónia foi acidental e que houve três disparos e não quatro.

Manuel Rodrigues tem defendido que, se Manuel Baltazar pretendesse matar a filha, teria aproveitado a altura em que estavam a disputar a caçadeira para a atingir, porque, de acordo com a reconstituição, a arma estava apontada ao peito e à barriga dela.

No entanto, Maurício Ferreira contou em tribunal que, na disputa pela arma, Sónia estava de costas para o pai e o cano apontado para o chão. "Se tivesse disparado logo, teria mais probabilidades de lhe apanhar uma perna", considerou.

Segundo a acusação, Sónia caiu no chão e, como não largou a arma, o pai arrastou-a cerca de quatro metros. Nessa altura, surgiu Maria Lina, de 85 anos, que ainda desferiu algumas pancadas com uma bengala no arguido, tendo depois Sónia largado a arma e fugido com a avó para o interior do anexo. Quando as duas já estavam de costas, a uma distância de cerca de cinco metros, Manuel Baltazar empunhou novamente a arma e disparou, atingindo a filha e a ex-sogra, refere.

No final da sessão desta segunda-feira, o advogado Manuel Rodrigues sublinhou que tem havido muitas contradições no julgamento, desde logo relativamente ao número de disparos. "Se a arma leva cinco tiros, se foram encontrados dois cartuchos por deflagrar, como é que houve quatro tiros deflagrados?", questionou, considerando que "o tribunal não está a valorizar esse problema".

Esta segunda-feira foi também ouvido um dos dois militares da GNR que primeiro chegaram ao local, Luís Filipe Lopes, que disse ter encontrado dois cartuchos no exterior (um cheio e outro vazio). Viu ainda um terceiro cartucho, já deflagrado, mas no qual não tocou.

O julgamento prossegue a 13 de Abril, dia em que o tribunal já deverá ter recebido os relatórios periciais relativos às doenças das vítimas e o relatório de perícia à personalidade de Manuel Baltazar. Manuel Rodrigues disse ter voltado a insistir junto do tribunal para que seja feita também uma perícia psiquiátrica a Manuel Baltazar. "Temos a informação de que ele foi assistido nos serviços psiquiátricos do Hospital de Vila Real, não sabemos porquê, só que não nos forneceram os elementos atempadamente", referiu aos jornalistas.

Além dos quatro crimes de homicídio qualificado (dois dos quais na forma tentada), o arguido está acusado de um crime de detenção de arma proibida e outro de violação de proibições ou interdições.

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