Campanha da Frente Nacional manchada por acusações de fraude

Presidente do Parlamento Europeu pede investigação sobre assistentes dos eurodeputados do partido de Marine Le Pen, sob suspeita de que estão a receber dinheiro de forma ilegal.

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Marine Le Pen em campanha em Doullens, no Norte de França PHILIPPE HUGUEN/AFP

Em período de campanha eleitoral em França, para as eleições departamentais, com as sondagens a darem a Frente Nacional (FN) como vencedora da primeira volta, o partido de Marine Le Pen está sob suspeita de defraudar os contribuintes europeus: 20 militantes da FN são pagos pelo Parlamento Europeu como assistentes dos eurodeputados deste partido, quando raramente sairão de França. Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu, pediu ao Organismo Europeu de Luta contra a Fraude (OLAF) que decida se deve investigar.

As suspeitas que levaram Martin Schulz a pedir a intervenção do OLAF representam uma fraude no valor de 1,5 milhões de euros anuais – o valor dos salários dos assistentes dos eurodeputados da FN. A continuar até ao final do mandato, chegaria a um valor total de 7,5 milhões de euros.

O que levou os serviços financeiros do Parlamento Europeu (PE) a investigar foi a divulgação, há cerca de um mês, do organigrama do partido de extrema-direita FN, onde constavam os nomes dos assistentes parlamentares, embora sendo-lhes atribuídas responsabilidades partidárias na sede em Nanterre, nos arredores de Paris. Mas as regras do PE estipulam que os assistentes “devem necessariamente trabalhar directamente com os deputados europeus, no exercício do seu mandato parlamentar”.

Os contratos destes assistentes – entre os quais dois conselheiros especiais de Marine Le Pen, a sua directora de gabinete no PE, bem como o de Florian Philippot, um dos cinco vice-presidentes da FN, avança o Libération – dizem que o local de trabalho é Nanterre, e não Estrasburgo ou Bruxelas.

Martin Schulz sustentou a sua decisão de recorrer ao OLAF, explicando que “não se pode trabalhar para o PE e para um partido político ao mesmo tempo”.

Os mistérios de Jeanne
Não é a primeira vez que o financiamento da FN está sob suspeita. Schulz informou o Ministério da Justiça francês, e o caso do Parlamento Europeu pode dar origem a uma investigação em França por financiamento ilícito de partido político. Mas a FN já está a ser investigada por causa do financiamento das campanhas eleitorais nas eleições cantonais de 2011 e nas legislativas e presidenciais de 2012.

As suspeitas concentram-se nas relações entre a empresa Riwal, dirigida por um próximo de Marine Le Pen, e o micro-partido Jeanne – um tipo de estrutura que se tem multiplicado em França, pois estas associações reconhecidas pela Comissão Nacional das Contas de Campanha e dos Financiamentos Políticos permitem contornar legalmente a lei sobre o financiamento dos partidos políticos, embora não possam receber apoios directos.

Só em 2012, a justiça suspeita que a FN terá lesado o Estado em 10 milhões de euros, num esquema de venda aos candidatos do partido de um kit do qual constam todos os materiais de campanha, por 16.500 euros, e a concessão de um empréstimo para o comprar. O lucro estaria no juro do empréstimo e no reembolso, pelo Estado, das despesas de campanha dos candidatos.

A culpa é de Valls
França vive um aceso período de campanha para as eleições departamentais, onde as sondagens dão a Frente Nacional como a possível vencedora da primeira volta, a 22 de Março: 31%, segundo a última sondagem Odoxa (a UMP de Sarkozy fica-se pelos 29% e o PS com 21%).

O primeiro-ministro socialista Manuel Valls assumiu o medo de a Frente Nacional, um partido anti-União Europeia e anti-imigração se tornar a primeira força política de França: “É preciso olhar o medo de frente. A coragem em política é aceitar o medo e ultrapassá-lo”, afirmou. Apelou ainda à “desconstrução do programa da FN”.

Face a estas acusações, que poderiam pôr em causa uma vitória que já saboreava, a FN reagiu com grande indignação, embora sem negar propriamente as acusações. Marine Le Pen fala “em manipulação política” e usou uma sua arma típica: prometeu processar Martin Schulz.

Mas, quando Valls dá o peito ao combate, os rostos mais conhecidos da FN acusaram-no de estar por trás da denúncia em Bruxelas e tentam reduzir tudo a um golpe eleitoral.

“É um encarniçamento político, evidentemente”, afirmou Marion Maréchal-Le Pen, a sobrinha de Marine Le Pen deputada em Paris. “Schulz é um militante político. Nas eleições europeias, fez vários comícios contra a FN. Agora, aplica à letra as ordens do sr. Valls, que ontem disse que era preciso que as elites se mobilizassem contra a Frente Nacional”, acusou, com uma lógica de simplicidade implacável. 

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