Dilma Rousseff afasta toda a administração da Petrobras

Depois de meses de resistência, a Presidente brasileira aceitou a demissão da presidente da petrolífera, Graça Foster, e da restante equipa directiva. Acções da estatal disparam na bolsa.

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Presidente do conselho de administração, Graça Foster, está de saída da Petrobras REUTERS/Ueslei Marcelino

A Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, vai substituir toda a administração da Petrobras, incluindo Graça Foster, a presidente que foi a sua escolha pessoal para o cargo e cuja competência – e permanência – defendeu quando a estatal petrolífera se viu envolvida em escândalos de sobrefacturação de obras e de corrupção política.

Segundo avançou a Reuters, Dilma Rousseff terá finalmente cedido à pressão e aceite a demissão de Foster e do restante conselho de administração, que há vários meses colocaram os lugares à disposição da Presidente. A data efectiva para a mudança não foi, todavia, anunciada: é provável que a actual equipa dirigente se mantenha em funções até ao fim de Fevereiro.

A imprensa brasileira diz que a decisão foi tomada numa reunião urgente em Brasília, na terça-feira à noite, e anunciada esta quarta-feira de manhã à Comissão de Valores Mobiliários. “O conselho de administração se reunirá na próxima sexta-feira para eleger nova directoria face à renúncia da presidente e de cinco directores”, informa o comunicado ao mercado.

Ontem, as notícias que corriam sobre a saída de Graça Foster da liderança da estatal contribuíram para uma subida de 15% dos títulos da Petrobras na bolsa brasileira, motivando um pedido urgente de explicações por parte da Comissão de Valores Mobiliários. De acordo com o jornal O Globo, terá sido a intervenção do regulador a precipitar a decisão da presidente da petrolífera – que já teria um acordo de princípio com Dilma Rousseff para deixar a estatal, com a sua equipa, em Março.

A Presidente brasileira resistiu o mais que pôde a despedir a administração da Petrobras, mesmo depois da divulgação de detalhes das investigações da operação Lava Jato, que expôs uma intrincada teia de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores e a base aliada do Governo. Alguns comentadores especulam que a renitência de Dilma à mudança pode ser explicada pelas revelações dessas interferências políticas indevidas: a Presidente terá preferido aguentar a crítica a uma dança de cadeiras em plena campanha eleitoral.

Mas a maior parte dos analistas concorda que a saída dos actuais administradores da Petrobras era inevitável, para a recuperação da credibilidade perdida da empresa e evitar a sua desvalorização em bolsa – em 2010, a petrolífera brasileira valia 380 mil milhões de reais (cerca de 123 mil milhões de euros) e, quatro anos mais tarde, por causa das denúncias de corrupção e dos erros de gestão, está avaliada em menos de metade, 112 mil milhões de reais (ou 36 mil milhões de euros).

A oposição reagiu à notícia, censurando a demora da Presidente em compreender a necessidade de demitir a administração da petrolífera perante a acumulação das perdas na empresa e insistindo que a actual comissão de inquérito à Petrobras, em curso na Câmara de Deputados, seja alargada para uma comissão mista com a participação do Senado.

Aécio Neves, o candidato social-democrata à presidência derrotado por Dilma, acusou o Planalto de se ter “livrado” de Graça Foster por ela ter “tomado a decisão correcta” de assumir os prejuízos das obras das refinarias do Maranhão e Ceará  – “que não deveriam ter sido iniciadas”, observou – e de admitir a perda de activos da estatal. “A Presidente Dilma achou que, mantendo Graça à frente da Petrobras, estaria blindada dos efeitos da má governança e da corrupção que tomou conta da empresa. Mas a grande verdade é que no momento em que a administradora da Petrobras, depois de muito tempo, falou a verdade, deixou de servir ao Governo da Presidente Dilma”, atacou.

Ao contrário de outros directores envolvidos directamente na corrupção (nomeadamente do antigo responsável pelo Departamento de Abastecimentos, Paulo Roberto Costa, que está detido e é um dos delatores da operação Lava Jato), o nome da presidente Graça Foster nunca esteve associado aos esquemas ilegais com partidos políticos. Aliás, Dilma Rousseff nunca se cansou de defender a sua honra: numa entrevista após a reeleição, a Presidente pôs fim às perguntas sobre um eventual despedimento de Graça Foster dizendo: “Eu conheço-a e sei da sua seriedade e correcção”.

Como notou à BBC Brasil o especialista em Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, Francisco Vignoli, “o que ampliou o desgaste em torno do nome de Graça Foster foi a divulgação de um cálculo segundo o qual a estatal teria o equivalente a 88,6 mil milhões de reais (28,6 mil milhões de euros) em activos superavaliados, ou seja, registados na contabilidade da empresa com valores mais altos do que os reais”. A apresentação desse relatório não-auditado, referente ao terceiro trimestre de 2014, levou a uma queda abrupta das acções da Petrobras.

Os analistas especulam agora que a substituição da administração da Petrobras pode ser aproveitada pela Presidente para introduzir alterações no modelo de funcionamento da empresa e no seu relacionamento com o accionista principal, que é o Estado brasileiro, no sentido de uma menor “politização” da sua equipa directiva.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, o palácio do Planalto quer indicar um nome “de preferência do mercado, que dê um choque de credibilidade à empresa”. Mas a tarefa revela-se difícil, e para já a Presidente não conseguiu encontrar “um executivo que se disponha a assumir o controlo da estatal no meio do maior escândalo de corrupção da sua história”, o que, para a oposição, é um sintoma da ingovernabilidade da petrolífera. “Presidente da Petrobras hoje não tem autonomia, tem postura de rainha de Inglaterra. Dilma deixou a empresa sem comando”, criticou o senador do DEM, Ronaldo Caiado.

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