Polícia recorre à violência para impedir a ocupação de edifícios públicos em Hong Kong

Autoridades garantem tomar “acções resolutas” nos próximos dias e um dos líderes dos protestos anuncia greve de fome. Deputados britânicos impedidos de entrar no território.

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Polícias armados de bastões e gás pimenta avançaram sobre manifestantes DALE de la REY/AFP

Milhares de manifestantes envolveram-se em confrontos esta segunda-feira com a polícia de Hong Kong, que teve que recorrer à força para repelir as tentativas de cerco e invasão dos edifícios governamentais do território. O episódio foi considerado como um dos mais violentos desde o início dos protestos há dois meses e obrigou ao encerramento temporário de alguns edifícios públicos.

Os confrontos começaram durante a madrugada de segunda-feira na zona de Admiralty, local onde se situam algumas das principais sedes governamentais e onde permanecem ocupadas algumas ruas pelos activistas pró-democracia. A polícia utilizou gás pimenta para tentar dispersar os manifestantes, à semelhança do que já tinha feito noutras ocasiões. Porém, de acordo com os jornalistas no local, as forças de segurança tiveram que recorrer a bastões para impedir que os edifícios fossem ocupados – algo que até agora não tinha ocorrido nos últimos dois meses.

Pelo menos 40 pessoas foram detidas e outras 40 foram hospitalizadas, segundo o The Guardian. Vários polícias apresentaram ferimentos.

Perante a crescente violência dos protestos, as autoridades garantem não hesitar em recorrer de novo à força. “A partir de hoje em diante, a polícia vai tomar acções resolutas no decorrer dos seus deveres”, disse o chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, durante uma conferência de imprensa após os confrontos. “Algumas pessoas confundiram a tolerância da polícia com fraqueza”, disse ainda Leung, apelando aos estudantes para que não regressem ao local dos protestos durante a noite.

A tentativa de ocupação dos edifícios foi planeada antecipadamente, com o objectivo de paralisar o funcionamento das instituições governamentais como resposta à remoção dos acampamentos de Mongkok – outro dos principais focos dos protestos – na semana passada. Os manifestantes estão contra a nova lei eleitoral aprovada no Verão que, apesar de introduzir o sufrágio universal para as próximas eleições em 2017, obriga a que as candidaturas passem pelo crivo de um comité de personalidades próximas do governo de Pequim.

“O plano como um todo foi um falhanço”, admitiu o presidente da Federação de Estudantes de Hong Kong, Alex Chow. Os estudantes – um dos sectores que tem estado mais envolvido nos protestos – vão decidir nos próximos dias se irão continuar a privilegiar as estratégias mais agressivas, disse Chow, citado pelo South China Morning Post.

Uma das novas tácticas parece estar já a ser posta em prática. Joshua Wong, líder do grupo Scholarism, anunciou que ele e duas outras estudantes vão entrar em greve de fome até que o diálogo com o governo seja retomado. “Hoje estamos prontos a pagar o preço e estamos preparados para assumir a responsabilidade”, escreveram os três jovens nas suas páginas de Facebook. Os estudantes prometem não ingerir nada mais do que água até serem recebidos pela secretária-geral do governo regional, Carrie Lam.

No domingo, o chefe de uma delegação de deputados parlamentares britânicos revelou ter sido informado que o grupo não poderia entrar em Hong Kong. “O governo chinês está a actuar de uma forma abertamente conflituosa ao recusar-nos o acesso para que façamos o nosso trabalho”, criticou Richard Ottaway, que lidera a comissão.

O primeiro-ministro, David Cameron, disse esperar que a recusa da entrada dos deputados no território não tenha passado de “um erro”. A decisão “é contraproducente porque apenas serve para amplificar as preocupações acerca de situação em Hong Kong”, acrescentou um porta-voz de Cameron.

Os deputados fazem parte de uma comissão de relações externas do Parlamento britânico encarregada de escrutinar o trabalho diplomático na antiga colónia e a forma como tem sido implementado o acordo que ditou a transferência de Hong Kong para a administração chinesa.

O governo chinês afirmou “por várias ocasiões” que se “opunha resolutamente à ida para Hong Kong da chamada delegação da comissão de relações externas do parlamento britânico para a chamada investigação”, respondeu a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, acrescentando que a insistência de Londres “não é benéfica para as relações sino-britânicas”.

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