Após vitória que soube a pouco, Sarkozy promete que não dirigirá o partido sozinho

Face a um resultado que não lhe dá carta branca, o ex-Presidente promete ouvir as vozes que clamam por um rumo diferente. Mas tem um logo caminho a percorrer para manter a unidade do partido e candidatar-se às presidenciais de 2017.

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Sarkozy promete criar um "comité de sábios" na UMP JEAN-SEBASTIEN EVRARD/AFP

A direita aposta em Nicolas Sarkozy para as eleições presidenciais de 2017, mas os franceses que não estão dispostos a votar num candidato socialista preferem alguém como Alain Juppé, confirma uma sondagem publicada no domingo. O resultado das eleições internas que levaram Sarkozy à liderança do seu partido, a União para um Movimento Popular (UMP), foi só mais uma confirmação desta tendência, e não dão conforto nenhum ao ex-Presidente de que possa regressar ao Palácio do Eliseu.

Sarkozy foi eleito presidente do seu partido, mas teve apenas 64,5% dos votos dos militantes, e não os arrasadores 85% que obteve em 2004, quando pela primeira vez obteve a liderança da UMP, e que desejava repetir agora para poder declarar-se o candidato à presidência das eleições de 2017, sem ter se submeter a primárias, como gostaria. O resultado obtido por Sarkozy “não lhe dá um cheque em branco”, afirmou o deputado Benoist Apparu, apoiante de Alian Juppé.

Convidado do telejornal do canal TF1, Sarkozy deu sinal de ter percebido que não tinha caminho aberto. “Não tenho a intenção de conduzir este partido sozinho”, afirmou, anunciando que vai criar um conselho de antigos primeiros-ministros. “Dominique de Villepin aceitou fazer parte”, anunciou, mencionando um homem que durante anos foi o seu arqui-inimigo.

Um dos candidatos à liderança, Bruno Le Maire, obteve um excelente resultado (29,15%), o que fez com que os analistas o apontassem, no sábado à noite, como aquele que ganhou, mesmo perdendo. Num partido que tem sido marcado pela figura da autoridade, emergiu uma alternativa, com a bandeira da renovação, e não da continuidade e regresso ao passado personificados por Sarkozy.

Le Maire, que aliás foi chefe de gabinete de Villepin, quando este foi primeiro-ministro, fala alemão, tem 40 e poucos anos e acumula graus académicos. É quase por definição a imagem oposta de Sarkozy. Ex-ministro da Agricultura, peca talvez pela imagem de tecnocrata um pouco frio, mas durante a campanha para a liderança do partido mostrou-se bastante crítico do ex-Presidente, e da linha “tudo à direita” que Sarkozy continua a seguir, apesar de não ter tido sucesso com esta orientação na campanha eleitoral de 2012, em que foi derrotado por François Hollande.

Alain Juppé, apesar de dez anos mais velho que Sarkozy, é um político que já várias vezes foi obrigado a reinventar-se na sua carreira política, e hoje personifica esse desejo de renovação, de seguir em frente. Mas exige primárias abertas ao partido do centro MoDem, de François Bayrou, para conseguir um candidato às presidenciais de 2017 apoiado por um amplo leque de eleitores, mais capaz de enfrentar Marine Le Pen, a candidata da extrema-direita.

Mas Sarkozy não aceita isto – Bayrou apelou ao voto em François Hollande na segunda volta das presidenciais de 2012, que ele perdeu. Mas o ex-Presidente conta mesmo candidatar-se às presidenciais de 2017? “Não tenho intenção de responder a essa pergunta”, respondeu Sarkozy na entrevista da TF1.

O desafio do consenso

O desafio de Sarkozy será conseguir unir todas as tendências no seio do seu partido e produzir um consenso – que, mesmo assim, lhe permita ganhar umas eleições primárias abertas ou não a pequenos partidos do centro, e obter a nomeação como candidato do centro-direita às eleições presidenciais de 2017.

À espera continuará a estar Le Pen, com um discurso que continuará a ser xenófobo e anti-União Europeia, mas marcado por preocupações sociais, respondendo às ansiedades das pessoas que perdem o emprego e se vêem abandonadas pelos políticos.

A resposta de Sarkozy tem sido marcar o mesmo terreno que Le Pen – mas isso tem levado a que cresça o sentimento de orfandade de muitos eleitores franceses, mais moderados, e que não se revêem no discurso ferozmente adoptado pelo ex-Presidente nos últimos anos do seu mandato, durante a campanha frente a Hollande e até agora, quando lutou pela liderança da UMP.

Parece haver espaço em França para uma direita mais moderada, que Sarkozy tem ignorado, depois dos primeiros anos do seu mandato presidencial, em que flirtou com a esquerda. Mas o caminho seguido até agora não é promissor para o eleitorado: 68% dos eleitores prognosticam que a UMP vai implodir em breve, mesmo com a eleição de Sarkozy, segundo uma sondagem Odoxa para o diário “Le Parisien” e a televisão i-Telé.  

A UMP é neste momento um partido a precisar de refundação ideológica – como o atestam as profundas divisões internas - e essa é uma das tarefas urgentes de Sarkozy, que confirmou na TF1 o seu desejo de rebaptizar o partido.

Além dos grandes trabalhos que o esperam na UMP, Sarkozy tem também de contar com os vários processos na justiça a que o seu nome surge ligado. São oito, e estão normalmente relacionados com o financiamento ilegal da UMP e de campanhas eleitorais. Em algum momento podem ter desenvolvimentos decisivos – como quando foi detido, no Verão passado, para prestar declarações.

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