Bono defende Spotify e negócio do streaming continua em ascensão

Tailor Swift saiu do serviço de streaming, mas para o vocalista dos U2 e agentes musicais que participaram na Web Summit, o futuro está em empresas como o Spotify

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O que queremos é que as nossas canções cheguem ao maior número possível de pessoas, diz Bono Stephen Lovekin/Getty Images/AFP

Bono veio a público defender o Spotify depois da notícia de que Taylor Swift retirou o seu catálogo do serviço de streaming, por considerar que este está na origem da quebra nas vendas.

“O verdadeiro inimigo não está entre os downloads digitais e o streaming, a verdadeira luta é entre a opacidade e a transparência”, disse o vocalista dos U2 na conferência Web Summit, em Dublin, segundo o jornal The Guardian.

O problema, segundo Bono, está na forma pouco transparente como a indústria musical sempre funcionou. “Se mudarmos isso, e se as pessoas puderem ver quantas vezes as suas músicas foram tocadas, se puderem ter acesso a informação sobre quem as ouve, se puderem ser pagas por débito directo… julgo que esses pagamentos vão representar alguma coisa, à medida que o mundo se torna mais transparente.”

Quanto ao Spotify – que na Europa começou já, pela primeira vez, a gerar mais royalties para os artistas do que o iTunes – Bono argumenta que o serviço “está a dar 70% do que recebe aos detentores dos direitos”. Mas “as pessoas não sabem onde está o dinheiro porque as editoras musicais não têm sido transparentes”. Se se conseguir estabelecer “modelos justos de distribuição”, a indústria musical “será uma onda que elevará todos os barcos.”

O músico referiu-se à estratégia utilizada pelos U2 para a divulgação do seu mais recente álbum, Songs of Innocence, que foi distribuído através da loja iTunes, da Apple, chegando, de forma automática, a milhões de utilizadores de iPhone e iPad. A opção foi controversa, porque muita gente que não estava interessada em ter os U2  na sua biblioteca recebeu o álbum – e muitos manifestaram a sua irritação com isso. Para Bono, não é um problema: “Muitas pessoas ficaram zangadas com os U2. Mas eu chamaria a isso uma melhoria na relação”, disse.

“E fomos pagos”, continuou. “Ninguém dá mais valor à música do que os membros dos U2. Para nós a música é sagrada. Acho que os artistas deviam ser melhor pagos do que são. Mas a melhor forma de servimos as nossas canções é conseguimos que elas sejam ouvidas.” Através da iTunes, conseguiram que “100 milhões de pessoas ouvissem uma ou duas ou três músicas, mas cerca de 30 milhões gostaram do álbum todo”. Antigamente isso não era possível. “Com [o álbum] The Joshua Tree demorámos 30 anos a conseguir isso.”

No caso do álbum dos U2, houve a assinatura de um contrato exclusivo com a Apple, mas Bono disse em Dublin que, de uma forma geral, os serviços de streaming são bons para os artistas, sobretudo para os que estão a começar. “Vejo-os como uma forma excitante de chegar às pessoas. E no final é isso que queremos para as canções dos U2.”

Também - escreve o The Guardian - o agente da cantora Adele, noutro debate na Web Summit, defendeu o Spotify, considerando que serviços deste género são o futuro da música. “Tem tudo a ver com escala. O Spotify funcionará se conseguir que suficientes pessoas paguem”, afirmou Jonathan Dickins.

No debate com Dickins estava também Jeff Jampol, que gere os direitos das obras de grupos como os Doors ou os Ramones. Segundo Jampol, as editoras deixaram já de estar no centro do negócio dos artistas: “Esta é a forma como os rendimentos devem surgir actualmente para um artista de sucesso: 60 a 65% vem dos bilhetes dos espectáculos, 15 a 25% do merchandising das tours, 10 a 15 % de publicações, 2 a 4% de produtos associados, e 2 a 4% das vendas dos discos.” Grande parte do trabalho dos agentes é, por isso, a gestão de todas estas áreas com características muito diferentes umas das outras.”

Dickins falou, a propósito disso, da sua própria experiência. “Uma coisa que a internet fez foi pôr conteúdos em todo o lado… e parte dessa fome por conteúdos fez com que atingíssemos um ponto de saturação. E isso retira valor às coisas. Uma das minhas funções é dizer que não. Isso pode significar ‘não, não quero fazer um perfume da Adele, não vamos fazer um verniz de unhas’. Ou ‘esse bilhete está demasiado caro’. Este poder de se dizer não é muito importante.” Relativamente ao streaming, não tem dúvidas de que é o futuro. “Estamos a entrar num modelo de streaming. Quer queiramos fazer parte dele ou não, dentro de cinco anos estará por todo o lado.”

E há sinais que lhe dão razão. Foi anunciado pela Kobalt (empresa que ajuda a recolher royalties para muitos músicos) que nos últimos meses, os lucros do serviço de streaming foram, em média, 13% superiores aos do iTunes, que sofreu uma quebra nos downloads de música. Um artigo da Business Insider revela que há dois anos, menos de 4% dos lucros da Kobalt eram provenientes do streaming – hoje são 10%. Enquanto isso, em poucos meses, o peso da iTunes para a Kobalt passou de 60% para menos de 50%. 

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