O PS segundo Clausewitz

A concepção clausewitziana da guerra como desdobramento da política, encontra na actual disputa do PS uma espécie de alter-ego.

Há uma personagem histórica que tem estado omnipresente na disputa pelo poder que tomou conta do Partido Socialista, chama-se Carl Von Clausewitz.

Este general prussiano, reconhecido teórico militar, que participou na célebre Batalha de Waterloo que derrotou Napoleão, tem sido o grande inspirador dos jogos de guerra que têm marcado o confronto fraticida que campeia no PS e a que os portugueses assistem atónitos.

A validade da famosa teoria de Clausewitz segundo a qual “a guerra nada mais é do que a continuação da política por outros meios” tem-se vindo a comprovar de forma despudorada no confronto entre socialistas, onde de há muito que as regras de urbanidade que deveriam pautar a disputa política entre cavalheiros, principalmente quando se trata de “camaradas” do mesmo partido, deram lugar a uma guerra sem quartel, com recurso a todo o tipo de armas.

A célebre trindade clausewitziana – violência, ódio e inimizade – serve-se todos os dias em doses absurdas no campo de batalha socialista, estendendo-se desdeas secções locais até aos debates entre os candidatos nas televisões, culminando no frémito das redes sociais.

No dia em que António Costa declarou abertas as hostilidades contra António José Seguro, dando resposta a um apelo lacinante do seu exército, a “situation room” do Rato reuniu-se de emergência para decidir a estratégia a seguir. Consultados os “generais seguristas” sobre a capacidade das tropas fiéis ao líder resistirem à ofensiva “costista”, foi admitida a mais do que presumível superioridade numérica das tropas inimigas, o que desaconselhava uma guerra clássica, isto é, a contagem de espingardas no estrito universo dos militantes e a realização de um congresso eletivo.

Como ensina Clausewitz: “a guerra é como um verdadeiro camaleão, que adapta as suas características a uma determinada situação”. Havia por isso que surpreender o inimigo mudando repentinamente as armas e o terreno de jogo. A estratégia passou assim por escolher um campo de batalha inesperado e desconhecido – o das “primárias”, minar o terreno à volta do Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, vulgo Rato, apostar tudo na guerrilha psicológica e prolongar o mais possível o tempo da batalha.

Mais uma vez, como ensina Clausewitz no seu tratado A Guerra: o melhor ataque é a defesa. No final, mesmo que o Rato fosse tomado, o desgaste do inimigo seria tão grande, as baixas provocadas tão numerosas e a terra queimada de tal forma extensa, que tornaria muito mais difícil e penosa, a tarefa do vencedor de reorganizar, unir e mobilizar o exército socialista para a mais decisiva de todas as batalhas: as eleições Legislativas.  

A concepção clausewitziana da guerra como desdobramento da política, encontra na actual disputa do PS uma espécie de alter-ego, provando que a luta política pode adotar o mesmo tipo de tácticas e comportamentos característicos da mais impiedosa das guerras.

Talvez a verdadeira diferença entre a política e a guerra seja efectivamente aquela que foi apontada por Winston Churchil, quando afirmou: “A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes”.

E esse é, provavelmente, o principal consolo que resta aos que saírem derrotados deste combate.

Militante do PS, especialista em Comunicação

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