Presidente da Ucrânia confirma libertação de 1200 prisioneiros mantidos pelos rebeldes

Novas sanções da UE visam gigantes petrolíferos russos. Governo de Moscovo volta a ameaçar com encerramento de espaço aéreo às companhias ocidentais que viajam para a Ásia.

Fotogaleria
O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, durante a visita desta segunda-feira a Mariopol AFP/PHILIPPE DESMAZES
Fotogaleria
Dmitri Medvedev, primeiro-ministro russo NATALIA KOLESNIKOVA/AFP

Os líderes rebeldes que dominam as auto-proclamadas repúblicas autónomas de Donetsk e Lugansk, no Leste da Ucrânia, já libertaram 1200 prisioneiros, em cumprimento dos termos de um acordo de tréguas firmado na passada sexta-feira entre o Governo de Kiev e os combatentes pró-russos.

A troca dos prisioneiros capturados por ambos os lados durante os cinco meses de conflito era um dos 12 pontos do acordo negociado na capital bielorrussa, Minsk, sob os auspícios da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, confirmou que “nos últimos quatro dias” o Governo de Kiev assegurou a liberdade de 1200 cidadãos capturados pelos separatistas.

Envergando um uniforme militar, Poroshenko discursou para uma plateia de trabalhadores metalúrgicos na cidade portuária de Mariupol, no Sudeste do país: um dos alvos dos rebeldes na última semana de combates antes da negociação do cessar-fogo. Num sinal evidente da fragilidade das tréguas, a cidade foi fortificada pelo Exército nacional – e o Presidente insistiu que os meios são suficientes para travar qualquer ofensiva rebelde que desfaça o compromisso alcançado em Minsk.

Nos arredores da cidade, os confrontos entre soldados ucranianos e separatistas pró-russos repetiram-se ao longo do fim-de-semana, deixando os observadores nervosos com a possibilidade de um regresso da violência em larga escala ao Leste da Ucrânia. “Faremos tudo para manter a paz”, sublinhou o chefe de Estado, mas “não abriremos mão da cidade de Mariupol nem de nenhum território ucraniano”. “O Exército tem ordens para assegurar a defesa de Mariupol com artilharia, rockets, tanques e aviões”, informou Poroshenko. “Se [os rebeldes] avançarem, serão esmagados”, prometeu.

Em Kiev, o porta-voz do Ministério da Defesa, Andri Lisenko, referiu-se a “pequenas violações” da trégua, que envolveram fogo de metralhadora e morteiros mas “nada de artilharia pesada” nem de mísseis. O mesmo responsável disse ainda que a Rússia tinha parado de enviar material militar aos rebeldes. Mesmo assim, o Governo de Kiev exprimiu “preocupação” com movimentações militares russas na península da Crimeia, que foi anexada por Moscovo em Março. Segundo Lisenko, o contingente mobilizado para o Norte da Crimeia, na fronteira com a Ucrânia, inclui 64 tanques, uma centena de veículos blindados, vários sistemas de artilharia e baterias de mísseis.

Apesar da ocorrência de tiroteios esporádicos, a OSCE, responsável pela supervisão do acordo de Minsk, considerou que o cessar-fogo está a ser observado por ambas as partes. Citado pela Reuters, o Presidente da Suíça, Didier Burkhalter, disse que “os próximos dias são cruciais” para perceber se a trégua poderá vingar – e assim fazer avançar o plano de paz para uma nova fase de entendimento político. “Os diferentes intervenientes [no conflito] têm a responsabilidade de encontrar uma solução política”, frisou Burkhalter, reconhecendo que esse será um desafio maior e mais difícil de concretizar do que o cessar-fogo.

Entretanto, em Bruxelas, os parceiros europeus preparam-se para aprovar formalmente novas sanções contra a Rússia, que restringem o acesso das petrolíferas russas aos mercados de capitais, disse fonte comunitária citada pela AFP.

As empresas Rosneft e Transneft, e as actividades petrolíferas do gigante do gás Gazprom “cumprem os critérios” fixados pelos embaixadores dos 28 Estados membros da União Europeia (UE) para imporem novas restrições de financiamento a bancos, empresas de defesa e petrolíferas em que o Estado russo tenha uma participação superior a 50%.

Os investidores europeus não poderão comprar obrigações ou acções nem conceder empréstimos a essas empresas. O objectivo é dificultar a capacidade destes grupos para se financiarem de maneira autónoma e “obrigar o Estado russo a meter a mão no bolso”, comentou a fonte da AFP.

As medidas reforçam as sanções económicas adoptadas no fim de Julho, quando a UE suspendeu a venda à Rússia de bens susceptíveis de uso militar, tecnologias sensíveis e equipamentos para o sector energético. Devem também ser acrescentados algumas dezenas de nomes à lista - de que já constam cerca de cem russos e ucranianos -  de visados pelo congelamento de bens e proibição de vistos de viagem no espaço europeu.

Rússia admite fechar espaço aéreo
A Rússia anunciou que poderá responder às novas sanções com a interdição do seu espaço aéreo às companhias aéreas ocidentais que sobrevoam o seu território, nas ligações entre a Europa e a Ásia. O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, tinha já posto essa hipótese, que acarretaria elevados custos para as transportadoras aéreas.

“Em caso de sanções ligadas ao sector energético ou novas restrições ao nosso sector financeiro, responderemos de maneira assimétrica”, declarou o chefe do Governo, numa entrevista publicada no site do jornal russo Vedomosti. Medvedev referiu-se, por exemplo, a “limitações no sector aéreo”.

“Partimos do princípio de que temos relações amigáveis com os nossos parceiros e é por isso que o céu da Rússia está aberto à aviação”, disse, de acordo com a transcrição feita pela AFP. "Mas se nos impõem restrições, devemos responder. Se os transportadores ocidentais voarem fora do nosso espaço aéreo, isso pode provocar a falência de inúmeras companhias que já estão no limite da sobrevivência”, acrescentou.

As transportadoras que sobrevoam a Rússia nas ligações entre a Europa e a Ásia seriam fortemente prejudicadas pelos custos acrescidos de rotas mais longas, mas também a companhia russa Aeroflot, que viu no primeiro semestre os seus resultados de exploração caírem para valores negativos, seria penalizada: a empresa estatal recebe compensações pelo uso do espaço aéreo russo calculadas por especialistas em mais de 154 milhões de euros por ano.


 

   

Sugerir correcção
Comentar