Rebeldes ucranianos libertam corpos das vítimas de queda de avião

Acesso aos 298 mortos vinha a ser pedido com insistência. Kerry enumera provas contra a Rússia.

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Kerry classificou como "grotesco" o modo como está a ser feita a retirada dos cadáveres do local onde se despenhou o avião Reuters

Investigadores holandeses estiveram em Torez, a cidade do Leste da Ucrânia para onde foram levados, após três dias, a maior parte dos cadáveres encontrados da queda na Ucrânia do avião da Malaysia Airlines, matando todas as 298 pessoas a bordo. Das vítimas 193 eram holandesas.

Trata-se de três cientistas forenses que foram acompanhados por observadores da OSCE e cujo objectivo é identificar os corpos.<_o3a_p>

Ao fim do dia o comboio seguiu, sob o olhar dos peritos internacionais, para Karkhov, a cidade ucraniana controlada pelo executivo de Kiev mais perto do local da tragédia. Daí será possível enviar os corpos para a Holanda.<_o3a_p>

Sob forte pressão internacional, os separatistas concordaram finalmente em entregar as caixas negras do aparelho, ainda esta segunda-feira, a um grupo de peritos malaios.

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disse que todas as opções estavam em cima da mesa, se não fosse dado acesso ao local. “Queremo-los de volta”, disse Rutte ao Parlamento em Haia. O chefe de Governo acrescentou que o Presidente russo, Vladimir Putin, concordou que as caixas negras deveriam ser entregues à autoridade internacional de aviação civil. A Ucrânia propôs entregar a investigação à Holanda por este ser o país com mais vítimas.<_o3a_p>

Antes, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, dissera que “a falta de acesso diz alguma coisa sobre a culpabilidade e responsabilidade” pela acção, e pedira à Rússia que assumisse as suas responsabilidades na investigação.<_o3a_p>

Kerry, em declarações à emissora norte-americana NBC, falou ainda do modo como os rebeldes, que controlam o território em que o avião caiu, estão a recolher os cadáveres, classificando-o como “grotesco”.

Os rebeldes condicionam o acesso ao local a um cessar-fogo, e só no domingo, passados três dias sobre o acidente, é que os 196 cadáveres encontrados (segundo informação local, não confirmada pelos poucos observadores da OSCE no local que, sublinha a BBC, não têm entre eles um único perito em aviação) começaram a ser retirados para o comboio de refrigeração que seguiu para a localidade de Torez, ainda em território controlado pelos separatistas pró-russos. 

Muitos temem que os corpos sejam usados pelos rebeldes para conseguir vantagens. “Há 298 corpos no local – as suas famílias, os seus entes queridos, querem que cheguem a casa”, disse a ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julia Bishop.

Peritos em investigações a desastres aéreos alertam ainda para o facto de que informação vital para a investigação se possa ter perdido, visto que o local continua caótico e os observadores da OSCE têm acesso a pouco ou nada. Já foi vista maquinaria pesada a remover escombros.

Embora tivesse dito que os EUA ainda não têm uma “conclusão final” sobre a responsabilidade do ataque ao avião, Kerry passou a enumerar algumas provas: “Temos imagens do lançamento, sabemos a trajectória, sabemos a hora, e foi exactamente à hora que o avião desapareceu do radar.”

Washington detectou, no mês passado, movimentações de grande quantidade de equipamento militar vindo da Rússia para o Leste da Ucrânia, incluindo uma coluna de veículos blindados, carros de combate e lança-rockets, apontou Kerry.

Um sistema antimíssil russo teria também chegado aos rebeldes, segundo informação de comunicações interceptadas, acrescentou, dizendo que há relatos de os rebeldes se terem gabado de terem abatido um avião.

As provas de Kerry
Após o avião se ter despenhado, continuou, há imagens de um sistema antimíssil russo a ser transportado de novo para a Rússia. “Há uma enorme quantidade de provas que apontam para o envolvimento da Rússia para fornecer estes sistemas e treinar quem os usa”, disse Kerry.

Por isso, os EUA ameaçam com mais sanções contra Moscovo e pedem aos europeus que depois deste momento endureçam a sua posição face à Rússia de Putin.

Antes, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, tinha pedido também uma mudança de abordagem em relação à Rússia. “É altura de mostrar os dentes”, defendeu num artigo no Sunday Times, neste domingo.

“A relutância por parte de muitos países europeus em enfrentar as implicações do que está a acontecer no Leste da Ucrânia arrasta-se há tempo de mais. Chegou a hora de fazer valer o nosso poder, a nossa influência e os nossos recursos”, disse Cameron. “Portamo-nos muitas vezes como se precisássemos mais da Rússia do que a Rússia precisa de nós”, lamentou. “Temos de mudar a nossa abordagem em relação à Rússia, [se Moscovo] não mudar a sua abordagem em relação à Ucrânia.”

Moscovo veio entretanto apontar o dedo às forças ucranianas, dizendo que havia um caça ucraniano SU-25 a uma distância de três a cinco quilómetros do avião malaio pouco antes da queda. “O que fazia um caça a esta altitude, ao mesmo tempo que um avião civil?”, perguntou o general Andrei Kartapolov, dizendo que o tipo de caça avistado “tem mísseis ar-ar com um alcance de 12 quilómetros e que destroem garantidamente um alvo a cinco quilómetros”.

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