Eleições na Indonésia são escolha entre nova geração e a velha guarda

Combate renhido pela presidência da terceira maior democracia do mundo.Candidatos estão empatados.

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Preparativos para as eleições presidenciais na Indonésia AFP/ADEK BERRY

O confronto pela presidência da Indonésia colocou frente a frente dois candidatos de gerações, personalidades e percursos políticos muito diferentes. Joko Widodo, de 53 anos, um empresário de sucesso que entrou na política pela via municipal e chegou a governador de Jakarta, é o rosto da independência e da renovação; enquanto o seu adversário, Prabowo Subianto, um antigo general e “homem forte”, representa a velha guarda que manteve a sua influência política após o colapso do regime autocrático de Suharto.

Mas apesar das diferenças pessoais, e da dureza da campanha eleitoral, marcada por boatos e ataques baixos, os comentadores políticos assinalavam uma semelhança ou coincidência entre os dois concorrentes à eleição desta quarta-feira: o recurso à mesma retórica nacionalista na defesa de políticas para responder aos desafios económicos com que o país se confronta, atacar a corrupção endémica do sistema ou estabelecer uma nova base de protecção social para os mais desfavorecidos.

Widodo, conhecido pela abreviatura Jokowi é descrito como uma espécie de Obama indonésio: dinâmico, carismático, idealista e livre das amarras do sistema – é o primeiro candidato que não pertence à elite política nem vem das fileiras militares. Pelo contrário, Subianto conhece os meandros do poder como ninguém: filho de um proeminente economista e ministro, ex-marido de uma das filhas de Suharto, comandante das forças especiais do Exército (que foram acusadas de raptos de dissidentes políticos e outros abusos dos direitos humanos), foi candidato em 2004 e 2009.

“Estilisticamente, era difícil arranjar dois candidatos mais diferentes numa eleição. Mas em termos políticos, existe uma grande continuidade: o que os distingue são diferentes visões sobre a forma de pôr em prática essas políticas”, assinalou Douglas Ramage, analista do Bower Group Asia, ao Financial Times.

O professor norte-americano Jeffrey Winters, especialista da Northwestern University em política da Indonésia, concorda. “Estes dois indivíduos dão ideia de serem completos opostos, quando na realidade a constelação de forças sociais e políticas por trás das suas candidaturas é muito semelhante. Ambos terão de corresponder aos interesses económicos que os apoiam; ambos estão rodeados por figuras militares controversas. Quem quer que vença, não será um momento revolucionário”, considerou ao jornal Christian Science Monitor.

O desfecho da votação – apenas a quarta vez, desde que o país retornou à normalidade democrática, que o Presidente é escolhido por sufrágio directo – é imprevisível. Na véspera da eleição, as sondagens apontavam um cenário de empate técnico entre os dois concorrentes, embora os números da Saiful Mujani Research favorecessem ligeiramente a candidatura de Prabowo Subianto, com mais dois pontos do que o seu adversário (mas dentro da margem de erro do inquérito).

Para os analistas, a “chave” da eleição está nas mãos dos cerca de um quinto dos eleitores que se declaravam indecisos mas tencionavam participar na votação. As expectativas são de que a taxa de abstenção fique abaixo dos 20%, o que em teoria beneficia as aspirações do popular governador, que habitualmente aparece em mangas de camisa e sempre com um caderno para anotar as preocupações e sugestões dos seus interlocutores. “Para mim, democracia significa ouvir as pessoas e fazer o que elas me pedem”, explicou durante o primeiro debate presidencial na televisão.

Mas Subianto conta com a experiência e organização dos partidos que apoiam a sua candidatura: o seu Gerindra (Movimento da Grande Indonésia), o Golkar de Suharto, o Partido Democrata e três formações islâmicas – uma coligação alargada e que lhe garante uma convivência pacífica com o parlamento.

A Indonésia tem 187 milhões de eleitores: para a votação desta quarta-feira, foram instalados 488 mil locais de voto no país. Os resultados serão anunciados no dia 21 de Julho e o vencedor tomará posse a 20 de Outubro (a partir daí, tem duas semanas para constituir Governo).

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