O soft power português

Existe um soft power português. Ele é conhecido mas não é reconhecido. O nosso país, as instituições, a sociedade, ainda não compreenderam que um dos nossos maiores ativos são os portugueses residentes no estrangeiro. Porque nos países de acolhimento estão bem integrados, são uma força de trabalho importante e ocupam postos relevantes na economia, na política, na ciência, na cultura ou no desporto. Eles são o nosso soft power, e exercem a sua influência da maneira mais simples: pela sua maneira de ser e pela força das suas raízes.

Este poder imenso das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo é pouco aproveitado pelo nosso país, que facilmente se esquece dos milhões de concidadãos que tem no estrangeiro. Foram impelidos a emigrar porque, geração após geração, o país não foi capaz de criar as oportunidades que uma sociedade desenvolvida e plenamente democrática devia proporcionar, o que revela bloqueios que impedem a progressão económica e social de cada um, independentemente da sua origem ou condição social.

Os portugueses residentes no estrangeiro continuam a ser estigmatizados, como se não tivessem perdão por terem deixado o país ou porque o país parece mais interessado em esconder aquele que é um dos maiores sintomas do nosso fracasso coletivo: a emigração. E mesmo nos dias de hoje, que Portugal voltou a conhecer fluxos migratórios dramáticos, por causa da crise e da austeridade, fala-se muito da emigração e do drama social e humano que representa, mas parece que logo são esquecidos assim que passam a fronteira. Além de haver um incompreensível distanciamento da nossa sociedade e das instituições relativamente aos que vivem fora do país, o Governo desinvestiu radicalmente nas políticas para as comunidades, como se evidencia com os cortes chocantes nos funcionários consulares, nos professores de Português no estrangeiro ou nos apoios sociais.

E esta falta de reconhecimento é um grande paradoxo, porque a emigração faz parte estruturante da nossa história e memória coletiva. Os portugueses são bem considerados e reconhecidos em países como a França, Alemanha, Canadá, Venezuela, Estados Unidos e em muitas outras partes do mundo, mas são relativamente ignorados em Portugal, desde logo pela própria administração pública, que não sabe lidar com as necessidades dos residentes no estrangeiro.

E, no entanto, fruto de uma inserção nas sociedades de acolhimento bem-sucedida, são uma imensa força, pelo que podem proporcionar a Portugal em termos de investimento e desenvolvimento económico, de diplomacia e cooperação estratégica, de promoção do turismo e difusão da nossa imagem como povo e como país.

Os residentes no estrangeiro são muito evocados pelas remessas que enviam, mas depois não há sequer registo do que representam em termos de importações de bens e serviços de Portugal. E não se trata de um mero “mercado da saudade”, como algo depreciativamente muitas vezes se diz, mas sim de um universo que representa muitos milhões de euros anuais na área alimentar, nos materiais de construção ou nos serviços, o que constitui um importante fator de dinamização da economia nacional, quer a nível das exportações quer do emprego. Muitas empresas portuguesas espalhadas pelo mundo dão empregos a milhares de concidadãos que fogem da crise em Portugal ou são os parceiros ideais em projetos de internacionalização. Só em França existem à volta de 45.000 empresas propriedade de portugueses ou de pessoas com origem portuguesa.

Há portugueses por todo o lado, pelo menos em mais de 140 países, que apenas esperam um sinal de reconhecimento, algo de concreto que lhes permita constatar que em Portugal também se interessam verdadeiramente por eles. Mas para isso é preciso eliminar alguns preconceitos ainda existentes.

Deputado do PS
 

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