A democracia tem soluções...

Modi é a esperança que a democracia traz à Índia e ao mundo. Oxalá que não a atraiçoe.

Após uma longa votação, de 7 de Abril a 16 de Maio, 814 milhões de indianos fizeram a escolha, numa prova de civismo e maturidade. Acorreram 66,4% e deram a maioria absoluta ao partido de Narendra Modi, BJP. Quando se propôs como candidato a primeiro-ministro, não houve entusiasmo no partido, nem apoio explícito, pois pairavam sombras de culpa nos confrontos de 2002, onde pereceram mais de 1000 muçulmanos, em Guzarate.

Ele era oposição ao partido do Congresso, onde pontuou a "dinastia" Nehru-Gandhi, durante 64 anos, com uma breve interrupção de oito anos, seis com Vajpayee, do BJP. "O povo deu 50 anos ao Congresso, dêem-me 50 meses para mudar a Índia", slogan parecido era de Modi. O Congresso, e com ele a dinastia, ficou desbaratado, com 44 deputados ou 59 com os aliados vs 288 do BJP e 336 com os aliados.

O que promete Modi? A grande mudança: o povo estava farto da corrupção, sem fim à vista; da Justiça lenta e inoperante; dos governantes, deputados e decisores que vergavam perante os poderosos. A discricionariedade e injustiças eram revoltantes.

O povo recebia promessas que pouco se concretizavam, com intermediários sem escrúpulos, que roubavam o que era para os pobres. Programas de ajuda, bem pensados, com empenho, eram ineficazes. Abaixo do limiar da pobreza vivem 25% dos indianos.

Modi, um homem do povo, trabalhador infatigável, deu provas de governante eficaz em Guzarate, onde foi ministro-chefe, em três mandatos. O estado, com uma população de 60 milhões, tem um rendimento per capita de $1,510 [1,102 euros], dos mais rápidos a crescer. Foi capaz de parar a corrupção, com rápidas autorizações para a construção, indústria, hospitais, serviços e infra-estruturas, atraindo investimentos que fizeram de um estado pobre um dos mais industrializados. Organizou, a partir de 2003, encontros bienais, Vibrant Gujarate, com crescentes intenções de investir, nacionais e estrangeiras. A cidade de Sanand ostenta um dinâmico cluster de automóveis com três grandes marcas.

Com as jogadas de poder, os partidos da coligação no Governo alimentavam instabilidade e muitas decisões voltavam atrás, com ameaças de desfazer a maioria no Lok Sabha. Era a grande dor de cabeça de Manmohan Singh. Agora, tudo é simples: dirigentes dos partidos aliados e o próprio Modi falaram de regressar aos elevados níveis de crescimento, unindo todos os cidadãos, que criem trabalho para todos e índices de bem-estar, que há muito mereciam.

Depois da irresponsável exploração colonial dos ingleses que arrasou a Índia, ela aguentou 40 anos de socialismo estéril, que mais a enterrou na miséria.

A partir de 1991 viram-se os surpreendentes efeitos do reformador Manmohan Singh: avivou e realizou esperanças, estando já muita coisa feita, entre outras, a escolaridade obrigatória até aos 14 anos (de 12,6 milhões na universidade, em sete anos passou para 26 milhões); cuidados de saúde em expansão; boas bases para se criar muito trabalho e saltar dos 5-7% de crescimento dos últimos quatro anos para os 8-10%. Em democracia, estando os partidos e o povo alinhados, com uma liderança forte, o êxito é certeiro.

Um país populoso, berço da civilização e cultura, onde nasceu a primeira universidade do mundo; onde os saberes modernos em matemática, astronomia, física, medicina, etc., tiveram lugar séculos antes do Ocidente; que é o viveiro de investigadores – mais de 1035 multinacionais têm centros de I&D na Índia!; é o mais importante pólo de TI, tecnologias de informação; esse país não podia ficar condenado à pobreza e emigração. Modi é a esperança que a democracia traz à Índia e ao mundo. Oxalá que não a atraiçoe, distraindo com temas emocionais e fracturantes.

Presidente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-Índia, professor da AESE

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