Dobra, os designers que gostam de trabalhar com pessoas fixes
Dão imagem a muita música, mas não se ficam por aí. João Guedes e André Cruz — responsável pela imagem do Optimus Primavera Sound em 2013 e 2014 — abriram o atelier Dobra, no Porto. "Interessa-nos trabalhar com pessoas fixes", dizem
O designer André Cruz concebeu a imagem da edição 2013 do Optimus Primavera Sound associada à imagem do “tangram”, um puzzle chinês com sete peças. Estava lá a representação das sete notas musicais, sete peças para serem sobrepostas, como contou ao P3 numa entrevista anterior. Este ano mantém a assinatura na identidade gráfica do festival, com uma linguagem com a qual está mais à vontade: “um bocadinho de minimalismo com rock and roll à mistura”. “O tangram está lá, o logótipo teve origem nas peças do tangram”, explica o designer. “Continuei a usar a ferramenta, mas não me fiquei por aí.”
A ideia para a identidade da terceira edição do Optimus Primavera Sound — que acontece de 5 a 7 de Junho, no Porto — “assenta um bocadinho (...) no objecto estranho não identificado que invade o Parque da Cidade durante os dias do festival”, com palcos, camiões e milhares de pessoas, “sem o prejudicar”. A tendência foi para as “cores planas” — o amarelo foi muito usado —, contrapondo a pureza do Parque da Cidade. Ao contrário do que ficou decidido em 2013, quando André foi o responsável pela imagem do festival no Porto e em Barcelona, este ano apenas trabalhou para o evento da cidade portuguesa. “Procurei que a imagem amadurecesse”, resume.
2014 é também o ano em que André se junta ao amigo e colega João Guedes na criação de um projecto conjunto, no Porto. “É uma história de amizade”, a do atelier Dobra, diz André, uma das metades da dupla. Foram colegas de faculdade na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Matosinhos e desde aí que trabalhavam juntos, em projectos paralelos às anteriores ocupações principais — a capa de “Groove Junkies”, dos portugueses Cool Hipnoise, foi a primeira colaboração a quatro mãos.
“O objectivo de abrir um atelier era tornar as nossas vidas bem melhores, pareceu-nos perfeitamente natural”, resume João, de 32 anos. Já partilharam uma banda, os Sizo, e até já partilharam casa. Quiseram ter um espaço para poderem fazer o tipo de design que mais lhes agrada. O mote está dado: “Interessa-nos trabalhar com pessoas fixes.”
Dar imagem à música
Na lista de clientes com os quais os dois amigos já trabalharam, em nome individual ou em dupla, há vários nomes conhecidos na área da cultura: Teatro Nacional de São João, Lovers & Lollipops e Dafne Editora, no caso de João; Casa da Música, Bienal de Cerveira e festival Paredes de Coura, no caso de André.
A música está presente há muitos anos, numa relação “muito pouco pensada”, que “surgiu naturalmente”, descreve André. Mesa, Torto [que actuam no OPS a 7 de Junho] e Ornatos Violeta são algumas das bandas com as quais já colaboraram. Dão “imagem à música”, como define André, e isto tanto pode acontecer em capas de discos como em cartazes para festivais. Em fase de produção, com a assinatura Dobra, está o projecto a solo do vocalista dos portugueses Glockenwise, Duquesa, editado pela Lovers & Lollipops. O desenvolvimento da identidade gráfica da Orquestra Jazz de Matosinhos é outro dos projectos que têm em mãos.
“Conhecemos imensa gente fixe porque tínhamos uma banda e isso levou a que essas pessoas também simpatizassem connosco e percebessem que fazíamos outras coisas além da música. Então também nos começaram a pedir colaborações na área visual”, recorda o designer de 33 anos. “Nunca pensei que iria estar nesta área a fazer as imagens das bandas ou dos festivais, achei que ia estar no palco.”