Crime violento caiu 64% nas favelas do Rio após a instalação da polícia militar
Estudo da Universidade Católica do Rio de Janeiro mostra redução dos homicídios e mortes nas comunidades pacificadas, mas nenhuma influência no tráfico de droga.
Os registos de ocorrências de delitos nas favelas do Rio de Janeiro onde foram instaladas Unidades de Polícia Pacificadora demonstram o sucesso da chamada política de “ocupação” do território na redução do crime violento e dos roubos, em comparação com as comunidades que ainda não foram militarizadas, segundo um estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
O estudo foi feito por dois economistas daquela universidade, Claudio Ferraz e Bruno Ottoni, a partir dos dados oficiais relativos aos registos das esquadras de polícia entre os anos de 2005 e 2012, bem como a actividade da linha Disque Denúncia, nas favelas e nos bairros do Rio de Janeiro.
A análise dos números revela que, nas comunidades ocupadas, os crimes que resultam em mortes violentas caíram 64% após a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), uma política iniciada em 2008. De acordo com o Instituto de Segurança Pública, nesse ano, a taxa de homicídio do Rio de Janeiro era de 34 mortes por cem mil habitantes; segundo os registos de 18 UPP que englobam 29 comunidades com mais de 252 mil moradores, o panorama nas favelas era pior, com 36,5 mortes por cada cem mil habitantes. Passados cinco anos, os números baixaram para 19 mortes por cem mil habitantes, mas nas áreas pacificadas a queda foi ainda maior, com 8,7 mortes por cada cem mil habitantes.
Os dois investigadores constataram ainda que os crimes violentos também diminuíram nas zonas adjacentes das favelas pacificadas: nas vizinhanças das 18 comunidades onde foram instaladas UPP até 2012, houve uma quebra de 29% nos casos reportados.
Paralelamente, houve um acréscimo de 70% nas denúncias de crime nas áreas de influência das UPP.
No entanto, a presença das autoridades dentro das favelas não teve praticamente influência em termos do tráfico de droga, que continuou a ser comercializada ao mesmo ritmo antes e depois da instalação das UPP – e apesar de terem mais do que duplicado as apreensões realizadas pela polícia, que passaram de uma média mensal de 1,5 operações em 2009 para 4,15 em 2012.
Para Ferraz e Ottoni, a política de ocupação cumpriu o seu principal objectivo, que era o combate aos grupos armados. Acontecimentos recentes – como o motim na favela do Pavão-Pavãozinho em protesto contra a morte de um dançarino de um programa televisivo – podem ser interpretados como “indícios” da reacção dos grupos do crime organizado (especialmente daqueles ligados ao narcotráfico) à presença das autoridades no seu território, e também como sinais da falta de confiança da população na actividade da polícia.
“A pacificação é importante, mas os seus efeitos positivos podem ser revertidos se não for adoptado um projecto mais amplo para levar o Estado até essas comunidades”, considera Claudio Ferraz, citado pelo jornal Folha de São Paulo. O acesso à educação é uma das falhas apontadas pelos autores do estudo, que notam que o tráfico ainda é uma ocupação muito atractiva para os adolescentes das favelas.