As companhias aéreas que saírem da Venezuela já não voltam, ameaça Maduro

A instabilidade política e os custos financeiros estão a levar as empresas a reduzirem os voos. A Air Canada suspendeu as operações.

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Clientes da Air Canada em Caracas pedem informações após suspensão do serviço REUTERS/Marco Bello

A Air Canada suspendeu o seu serviço para a Venezuela esta semana, alegando que a deterioração das condições de segurança no país tinha tornado a operação “insustentável”. “A segurança dos nossos passageiros e funcionários é sempre a prioridade máxima”, justificou a companhia canadiana, acrescentando que a decisão de cancelar os três voos semanais para Caracas se deveu aos “distúrbios e contínua agitação civil”.

Outras companhias aéreas já avançaram ou estão a ponderar avançar com medidas similares: se não a suspensão total do serviço, como fez a Air Canada, pelo menos uma diminuição do número de voos, ou então a utilização de aviões mais pequenos nas rotas estabelecidas. Desde o início do ano, a oferta de lugares para a Venezuela tem vindo a cair, com algumas companhias – especialmente aquelas que operam dentro da América Latina – a reduzir em quase 80% o número de passageiros transportados.

A instabilidade política no país, onde há mais de um mês se assiste a manifestações e protestos de rua, cortes de estradas, é a razão oficialmente apontada – mas esse argumento não convence o Governo. Em relação à Air Canada, por exemplo, o ministro dos Transportes, general Hebert García Plaza, notou que “os voos para países com problemas de segurança muito mais graves do que a Venezuela” não foram suspensos, e aparentemente não preocupam a empresa. “Tomaram uma decisão unilateral, pelo que não voltaremos a conversar com eles. A nossa relação comercial com a Air Canada está assim finalizada”, anunciou.

Em declarações à BBC, o presidente da Associação de Linhas Aéreas da Venezuela (ALAV), Humberto Figuera, lamentou tanto a decisão da Air Canada, como a reacção do Governo, que classificou como exagerada. “Está a querer dar-se um carácter político a uma decisão que não tem absolutamente nada que ver com qualquer consideração política”, considerou.

Como sublinham vários analistas económicos, há um outro forte motivo por detrás da “renitência” das transportadoras em manter as suas ligações à Venezuela: os actuais custos financeiros das empresas internacionais, que, por força dos constrangimentos cambiais e da retenção de divisas do Governo de Caracas, não conseguem repatriar as receitas da sua actividade comercial.

O problema para os operadores estrangeiros está na conversão dos seus rendimentos com a venda de bilhetes em bolívares para dólares: sem reservas de moeda estrangeira, o Governo de Maduro congelou essas transferências. O ministro dos Transportes garantiu, porém, que o Centro Nacional de Comércio Exterior vai avançar com o pagamento da facturação devida de 2014 e “procurar um mecanismo de negociação para o pagamento das dívidas do ano anterior”.

A estimativa da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) é de que a dívida da Venezuela às companhias internacionais ascenda a mais de 3,7 mil milhões de dólares, a maior parte dos quais relativos aos anos de 2012 e 2013 (embora haja companhias com dinheiro em falta desde 2009). “Esta situação de bloqueio ignora tratados internacionais e torna muito difícil a manutenção do compromisso [das companhias estrangeiras] com o mercado venezuelano”, comentou um porta-voz da IATA.

O responsável da Air Canada para a América do Sul, Patrick Fitzpatrick, acabou por reconhecer que a retenção de fundos também influenciou a decisão da companhia em suspender os voos para a Venezuela. “A recente deterioração da segurança só veio exacerbar o desafio que é fazer negócios na Venezuela depois de meses de instabilidade política e económica”, observou.
 

   

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