Scott Asheton, baterista dos Stooges, morreu aos 64 anos

As causas da morte, noticiada por Iggy Pop num post na sua página de Facebook, não foram reveladas.

O baterista num concerto com os Stooges em Las Vegas, em 2007
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O baterista num concerto com os Stooges em Las Vegas, em 2007 Ethan Miller - Getty Images
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Iggy Pop e os irmãos Asheton reencontraram-se em 2003 para um concerto que acabaria por se transformar em reunião para digressão e novas gravações DR
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A primeira formação dos Stooges, com Scott e Ron Asheton, Dave Alexander e Iggy Pop DR

Scott Asheton não era um baterista qualquer. Scott Asheton, nascido em Washington, mas residente de Ann Arbor, no Michigan, desde os 14 anos, era o baterista dos Stooges, ou seja, o responsável pela batida primitiva, incrivelmente certeira, sob a qual a banda de Iggy Pop construía a música que se tornaria uma das influentes na história do rock’n’roll – o punk, dos Ramones aos Damned, dos Sex Pistols a Johnny Thunders, deve-lhes quase tudo. Scott Asheton, que tocou nos álbuns clássicos dos Stooges, na década de 1960 e 1970, e naqueles que a banda gravou depois de se reunir novamente em 2003, morreu sábado, aos 64 anos. As causas da morte não foram divulgadas.

“O meu querido amigo Scott Asheton morreu a noite passada”, escreveu domingo Iggy Pop na sua conta do Facebook. “O Scott era um grande artista, nunca ouvi ninguém tocar bateria com mais intenção que Scott Asheton. Era como meu irmão. Ele e o Ron [irmão de Scott, guitarrista nos Stooges] deixam ao mundo um legado imenso. Os Ashetons sempre foram e continuarão a ser para mim uma segunda família. Os meus pensamentos estão com a sua irmão Kathy, a sua mulher Liz e a sua filha Leanna, que era a luz da sua vida”.

Os irmãos Asheton e o baixista Dave Alexander formaram a banda que viria a transformar-se nos Stooges em 1967. “Gostávamos da ideia de estar numa banda, tínhamos o aspecto de quem estava numa e andávamos todos juntos. Mas só quando Iggy se envolveu é que nos tornámos uma banda a sério”, contou Scott no livro The Stooges: Head On, de Brett Callwood, citado no obituário publicado pela Rolling Stone.

Em 1969, os Stooges estrearam-se com um álbum homónimo, seguido de Fun House um ano depois. O impacto, além de Ann Arbor e de Detroit, foi inicialmente inexistente, mas a agressividade e a energia que brotava daquele rock’n’roll no fio da navalha, bem como a lenda que se foi construindo em volta dos concertos liderados pela pose confrontante de Iggy Pop, acabaria por transformá-los em figuras de culto responsáveis em grande parte pelo eclodir do punk.

Se o primeiro álbum fora produzido por John Cale, dos Velvet Underground, o terceiro, Raw Power, gravado em Londres, nasceu por influência e insistência de um fã chamado David Bowie. Iggy Pop planeara gravá-lo com o guitarrista James Williamson e músicos britânicos. Acabaria, porém, por render-se à evidência: um álbum dos Stooges sem os irmãos Asheton não poderia ser um álbum dos Stooges, não poderia soar como tal. Editado em 1973, gravado com Iggy Pop, James Williamson, Scott Asheton e o irmão Ron, temporariamente convertido ao baixo, Raw Power acabaria por ser considerado por muitos como o melhor álbum da banda e um clássico intemporal da história do rock’n’roll. A banda, que sempre vivera num turbilhão de excessos e conflitos mal resolvidos, terminaria no ano seguinte.

Scott Asheton juntar-se-ia a Fred Sonic Smith, guitarrista dos míticos MC5, tal como os Stooges proto-punks de Detroit, nos Sonic’s Rendezvous Band, inicialmente activos entre 1975 e 1980, e colaboraria também com o músico nova-iorquino Sonny Vincent. Durante esse período, Scott acompanhou Iggy Pop numa digressão a solo em 1978. Seria preciso esperar 25 anos para se encontrassem novamente. Aconteceu em 2003, quando os Stooges, com o baixista Mike Watt, dos Minutemen, no lugar de Dave Alexander, que morrera em 1975, se reúnem para um concerto no festival de Coachella, tão celebrado que aquele que seria um concerto único rapidamente se transformou em digressão – que passaria, em 2005, pelo Super Bock Super Rock, no Parque do Tejo. Vimos os Stooges novamente, em Julho de 2011, no Optimus Alive.

Já era certo que a formação não incluiria Ron Asheton, que morrera de ataque cardíaco em 2009. Poucas semanas antes do concerto ficámos também a saber que Scott, caído doente durante a digressão, também não estaria presente. Ainda assim, ouvimo-lo em Ready to Die, álbum de Iggy Pop & The Stooges editado o ano passado. Foi o último em que ouvimos.

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