Ultra-ortodoxos contra serviço militar paralisam Jerusalém

Protesto contra projecto de lei que prevê recrutamento de parte dos haredim junta centenas de milhares de pessoas.

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Ultra-ortodoxos lutam pela manutenção do privilégio de não serem recrutados para o Exército Darren Whiteside/Reuters

Centenas de milhares de judeus ultra-ortodoxos manifestaram-se este domingo em protesto por uma proposta de lei que pretende que a comunidade deixe de ter o privilégio de não cumprir o serviço militar obrigatório, de que goza desde a fundação do Estado hebraico.

Os líderes ultra-ortodoxos (haredimpediram uma “marcha de um milhão”, com homens de negro e chapéu, mulheres e crianças a paralisar partes da cidade. A polícia dizia que eram centenas de milhar, os media estimavam uma participação de entre 250 mil e 400 mil.

A questão do serviço militar obrigatório – e da excepção para os ultra-ortodoxos – é  uma questão delicada em Israel.

O projecto de lei prevê que cada vez mais jovens ultra-ortodoxos participem nessa parte da vida cívica do Estado judaico, essencial para a sua protecção. Mas apenas uma parte irá servir no exército, disse Inna Dolzhanksky, porta-voz de um dos deputados encarregados pelo texto. A ideia é chegar a 2017 com um recrutamento de 60% dos jovens em idade de servir entre a comunidade haredi. Escolas religiosas que enviem os seus alunos para o Exército vão receber incentivos financeiros. Por outro lado, se a comunidade ultra-ortodoxa não chegar a essa quota até então, o projecto prevê serviço militar obrigatório para os haredim e penalização criminal para quem fuja.

O fim da excepção para os ultra-ortodoxos, com o lema de “partilhar o esforço”, foi um tema da campanha eleitoral em Israel no ano passado. O especialista em judaísmo ortodoxo Menachem Friedman comentou que os líderes ultra-ortodoxos estão a sentir uma crescente hostilidade da maioria secular que tem de garantir o bem-estar da comunidade. “A sociedade israelita está a dizer que chega”, comentou, em declarações à Associated Press. “Todos percebem que este é um grande problema e que as coisas não podem continuar assim.”

Quando foi fundado o Estado de Israel, em 1948, havia 30 mil ultra-ortodoxos, portanto a excepção que lhes foi dada não parecia muito significativa. Mas com o grande número de filhos por casal, esta é uma das comunidades que cresce mais rapidamente, e hoje haverá entre 750 mil e 800 mil haredim em Israel – 10% da população. Mais, segundo o demógrafo israelita Sergio Della Pergola, nas escolas primárias, por exemplo, a percentagem de ultra-ortodoxos já andará perto dos 20%. Um crescimento desigual que poderá ter consequências no equilíbrio interno da sociedade, sendo o exemplo mais evidente o do Exército. Se a excepção se mantiver, juntando ultra-ortodoxos e árabes israelitas (outro grupo que é o que mais cresce, e que não entra no exército) dentro de 25 anos metade dos israelitas poderá não ser recrutada.

A maior inclusão de ultra-ortodoxos na sociedade em geral, e no exército em particular, não deixa de levantar questões: o facto de haver mais haredim a fazer serviço militar já provocou tensões: alguns soldados ultra-ortodoxos levantaram-se numa cerimónia por haver mulheres a cantar, e um grupo exigiu um apertar das regras kosher para a comida.

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