Bolseiros: “Lamentamos informar que…”

Se não é no início, pode ser a meio ou mesmo no final do parágrafo. Mas lá está esta expressão. Dura de ouvir. Muito mais, com certeza, do que foi escrevê-la. Provavelmente até fará parte de um texto ou carta em formato automático, onde só o nome de cima se substitui.

As primeiras palavras destas não custaram tanto a ouvir. Faziam parte de um percurso de alguém que já se sente grande na ciência mas ainda não tem muitas provas disso. Por isso, estas seriam uma das pedras do caminho que são precisas guardar para mais tarde fazer um castelo. As oportunidades iam aparecendo, sempre vestidas de novas esperanças e vontade de conquista, aumentando o espírito optimista de quem já o é, e não o perdendo a quem quase não o tem.

Mas o tempo passou e o texto não mudou.

Pode vir em jeito de projectos, acções integradas, bolsas, ou mascarado de outras colaborações. Com uma frase que termina sempre da mesma maneira. “Face ao orçamento disponível…”.

Hoje recebi mais um. Mais um dessa grande e única instituição que é a FCT.

O meu espirito optimista teima em ouvir os treinadores de futebol que perante a adversidade (de arbitragem, por exemplo) respondem com trabalho e ainda mais trabalho. Mas estou certa que estes treinadores nunca estiveram a jogar num campo como é hoje o nosso científico. Onde as balizas desapareceram e os golos que se tentam marcar só são permitidos aos jogadores mais velhos e mais experientes. Como serão estas equipas no futuro, cheias de excelentes antigos jogadores e com os “juniores” sempre no banco? Quando precisarem destes “juniores” (alguns de idade avançada), eles não vão saber jogar ou simplesmente se cansaram de estar a ver o jogo no banco.

Ainda não sou uma cientista emigrante. Ainda não tenho planos para isso. Mas corro o risco de deixar de ser uma cientista se não tiver esses planos.

Bolseira de pós-doutoramento, Universidade de Aveiro

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