Salgado "envia um beijinho" a Ricardo Abecassis Espírito Santo que anda distraído com o Carnaval

BES teve prejuízo de 517,6 milhões de euros em 2013.

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Ricardo Salgado foi constituído arguido no processo Monte Branco enric vives-rubio

O Banco Espírito Santo (BES) apresentou um prejuízo de 517,6 milhões de euros no ano passado, resultado que contrasta com lucros de 96,1 milhões em 2012, anunciou nesta quinta-feira a instituição liderada por Ricardo Salgado. O banco, que se destaca como o único dos cinco maiores bancos privados a reflectir uma degradação das suas contas, atribuiu a passagem de lucros a prejuízos de 2012 para 2013 com a quebra do produto bancário, que teve uma descida de 26,3%, e com o “reforço das provisões para imparidades”, que aumentaram 18,6%.

Durante a divulgação dos resultados anuais, o presidente do BES, Ricardo Salgado, não afastou a possibilidade de recorrer, ainda este ano, a um aumento de capital, solução excluída [esta quarta-feira] por Ricardo Abecassis Espírito Santo, candidato à sua sucessão.  

Quarta-feira, em São Paulo, Ricardo Abecassis Espírito Santo, presidente do Espírito Santo Investment Bank Brasil (filial do BES), surpreendeu ao assumir-se como candidato a liderar o BES (caso os accionistas o apoiem), e a substituir Salgado que preside ao GES desde 1993. A afirmação inesperada surgiu horas antes do banco português divulgar as suas contas anuais de 2013 e acabou por colocar “Abecassis” no epicentro do encontro com a comunicação social. O ano passado o BES apurou um prejuízo de 518 milhões de euros, que reflecte a constituição de provisões para fazer face a imparidades de crédito que totalizaram 1,423 mil milhões de euros.

“O dr. Ricardo Abecassis [Espírito Santo] é um excelente banqueiro” mas, no Brasil, “estamos em período de férias, entre o Natal e o Carnaval, e ele anda um bocadinho distraído [com o programa de capitalização do BES]”, pois “temos [BES] capital suficiente, embora com grandes desafios pela frente”, observou  Salgado.

“O capital é robusto, mas não podemos cantar glória” e só depois das avaliações às contas [exame de entrada na união bancária e dois testes de stress], “que nos vão pôr à prova, é que podemos garantir que o capital é resiliente.” E, por isso, “não posso dizer que não vamos ter um aumento de capital pela frente” em 2014. Na véspera, o primo Ricardo Abecassis garantiu o oposto: o BES não ia necessitar de aumentar o capital este ano. Para Ricardo Salgado, a injecção de fundos estatais não é uma hipótese e qualquer via de reforço dos capitais do BES será por recurso a investidores internacionais.

Ainda sobre a sua sucessão, o banqueiro começou por dizer: não vou falar” sobre essa matéria, que “deve ser tratada no quadro accionista”, ainda que tenhamos "muito gosto em especular, hoje estamos focados na reorganização do grupo”. Inquirido se já abordou o tema com Abecassis, o banqueiro esclareceu que “ainda não” pois “temos tido muito que fazer.” Mas “o dr. Ricardo, certamente, aparecerá por aí um destes dias”, opinou. Minutos antes de dar por terminado o encontro com a comunicação social, e perante a insistência dos jornalistas, largou a piadinha: “Desde aqui lhe envio [a Abecassis] um beijinho”. Por seu lado, José Maria Ricciardi, o presidente do BESI, lembrou que assinou, no final de 2013, um pacto de não-agressão e de convivência com o primo-direito, Ricardo Salgado. Por essa razão, disse, “não comento", referindo-se às declarações de Abecassis.

“Quero elogiar o Ministério das Finanças”, mas também "o governo pela amnistia fiscal", disse o presidente do BES, para quem esta via contribuiu para a redução do défice estatal em 2013. No BES “incentivámos os clientes a beneficiarem” [do perdão fiscal] e, em regra, “todos os bancos” o fizeram. O perdão fiscal [quase 500 milhões em juros e coimas] possibilitou aos contribuintes regularizarem as dívidas ao Fisco e à Segurança Social [o Governo arrecadou 1,28 mil milhões de euros]. Os socialistas já vieram criticar a medida por “maquilhar a medíocre execução orçamental de 2013.” Recorde-se que Salgado recorreu aos três planos de amnistia fiscal lançados desde 2005, e dirigidos a quem detinha património fora de Portugal. No total, segundo o que foi referido na imprensa, o banqueiro regularizou cerca de 26 milhões de euros que não declarara ao fisco e pagou dois milhões de euros de imposto.   

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