Israel teme crescimento de movimento de boicote internacional

A actriz Scarlett Johansson deu uma vitória a Israel, diz o Ha’aretz. Mas algumas empresas com actividades nos colonatos já estão a sentir efeitos de campanha.

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Actividades em colonatos judaicos em território ocupado estão cada vez mais sob escrutínio Menahem Kahana/AFP

Há uma semana, muitos em Israel saudaram a actriz Scarlett Johansson, que, forçada a escolher entre manter-se num anúncio a um refrigerante (de uma empresa com uma fábrica num colonato judaico em território palestiniano ocupado) e continuar a ser embaixadora da organização não-governamental Oxfam, escolheu a multinacional israelita.

Mas quando o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, avisou no fim-de-semana para o perigo de um movimento de apelo a boicotes por causa da presença israelita em território ocupado, o tom das reacções no Estado hebraico mostrou o quanto esta questão é sensível.

"Há uma campanha de deslegitimização de Israel que está a aumentar", e aumentará mais ainda caso falhem as conversações de paz entre israelitas e palestinianos, disse Kerry durante a conferência de segurança de Munique. 

Em Israel, logo as suas palavras foram encaradas como ameaças. "É impossível esperar que Israel negoceie com uma arma apontada à cabeça", disse o ministro da Informação, Yuval Steinitz.

As críticas de políticos israelitas ao responsável dos EUA foram tão fortes, diz o diário Jerusalem Post, que levaram o Departamento de Estado a emitir uma comunicação "pouco habitual", pedindo a que as palavras de Kerry não sejam distorcidas. O Departamento de Estado frisou que Kerry sempre se opôs a boicotes contra Israel. 

O secretário de Estado norte-americano continua a fazer pressão para conseguir resultados nas conversações israelo-palestinianas, que têm um calendário apertado e deveriam terminar em Abril. Mas os palestinianos têm-se queixado de provocações israelitas para fazer descarrilar o processo, como o anúncio de construção de mais casas em colonatos – ainda ontem, foram anunciadas mais 500 casas. Israel nega e contrapõe com as suas medidas de boa vontade, como a libertação faseada de pouco mais de 100 prisioneiros palestinianos, que provocam uma forte reacção emocional no Estado judaico.

No campo de sanções pela presença em território ocupado, o ano passado Israel reagiu com indignação a uma decisão da União Europeia de publicar linhas de orientação para acordos com o Estado hebraico que excluam quaisquer instituições de colonatos judaicos (incluindo não só a Cisjordânia mas também os montes Golã, anexados depois de ocupados) da canalização de fundos, bolsas ou prémios. Comentadores do Estado hebraico apontaram então que era a primeira vez que havia uma consequência prática do facto de a UE considerar ilegais os colonatos.

Por outro lado, enquanto as exportações de produtos agrícolas israelitas estão a crescer em termos globais (dados do Instituto de Exportação de Israel), agricultores israelitas do Vale do Jordão, do lado palestiniano da Linha Verde (linha que separa a Cisjordânia de Israel), notaram uma diminuição de mais de 14% no rendimento por causa de boicotes no Reino Unido e países escandinavos (dados do centro de estudos Molad, de centro-esquerda).

Esta semana, o banco sueco Nordea Bank anunciou que iria suspender negócios com o banco israelita Hapoalim invocando "razões legais e éticas" e o dinamarquês Danske Bank (o maior na Escandinávia) disse ter pedido esclarecimentos a dois bancos israelitas em relação às suas actividades nos territórios ocupados.

Assim, diz o Ha’aretz, se Israel pode contar com uma vitória na sua acção de relações públicas contra o boicote com a decisão de Scarlett Johannson se manter como protagonista do anúncio à SodaStream, a ideia de boicote foi exposta a um público alargado, que poderia antes desconhecê-la.

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