Aline Frazão, a nova voz de Angola: “Valorizo muito a espontaneidade”

Começou por cantar um fado aos nove anos, em Luanda, e essa brincadeira levou-a a um caminho sério na música. A angolana Aline Frazão mostra hoje no São Luiz os tons e as cores do seu Movimento.

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Aline Frazão DR

Nasceu em Luanda, mas na sua trajectória musical e de vida cruzam-se Lisboa, Madrid, Barcelona (onde hoje vive), Galiza, Brasil e Cabo Verde. Aline Frazão, que Lisboa ouviu recentemente no espectáculo de tributo a Joni Mitchell, é a novidade vocal angolana do momento. Movimento, o seu segundo disco a solo, mostra do que ela é capaz e é apresentado nesta sexta-feira, às 21h, na sala principal do Teatro Municipal de São Luiz. Como começou na música? Há anos, na infância.

Nasceu em Luanda mas na sua trajectória musical e de vida cruzam-se Lisboa, Madrid, Barcelona (onde hoje vive), Galiza, Brasil e Cabo Verde. Aline Frazão, que Lisboa ouviu recentemente no espectáculo de tributo a Joni Mitchell, é a novidade vocal angolana do momento. “Movimento”, o seu segundo disco a solo, mostra do que ela é capaz e é apresentado esta sexta-feira, às 21h, na sala principal do Teatro Municipal de São Luiz. Como começou na música? Há anos, na infância.

“Os meus pais não me influenciaram. Aconteceu na escola, de uma forma um bocado aleatória. Numa visita de estudo, eu e uma colega começámos a cantar, no autocarro para um magusto, um fado: Povo que lavas no rio, que conhecíamos da Dulce Pontes. A professora de artes plásticas ficou muito impressionada e disse que nos ia levar para o canto coral.” Elas tinham ambas nove anos e as aulas eram para os mais crescidos, mas isso não foi um problema: “O professor que orientava o canto coral pegou em nós, em mim e na Jéssica, e começámos a cantar nas festas da escola. E a viajar. E estávamos ligados à Associação 25 de Abril em Luanda, que fazia umas noites de fado todas as sextas-feiras.” Começaram pelo fado e depois, pouco a pouco, foram abrindo para outros tipos de música. “Comecei a cantar mornas, bossa nova, música tradicional da Guiné-Bissau, até música napolitana!” E angolana também. “A par com a portuguesa, também cantávamos música tradicional angolana, tudo isso fazia parte do canto coral da escola. Até aos 15 anos, mais ou menos, tive possibilidade de cantar e aprender. Essa foi toda a formação musical que eu tive.”

Só muito depois Aline começou a pensar na música como um modo de vida. “O ponto de viragem foi a minha participação no festival Cantos na Maré, na Galiza. A Uxía convidou-me a participar na edição de 2010, que foi com o António Zambujo, o Lenine e Guadi Galego. Foi esse o meu primeiro festival profissional. E esse festival é muito interessante, porque permite uma interacção entre os cantores, os músicos... É incrível, é apaixonante.” Aí, ganhou “um pouco mais de confiança” no seu próprio trabalho e decidiu mudar-se para a Galiza, gravando em Santiago de Compostela o primeiro disco a solo, Clave Bantu, lançado em Dezembro de 2011. Tinha onze temas originais, compostos por ela, incluindo duas parcerias com os escritores angolanos José Eduardo Agualusa e Ondjaki. “Foi gravado com o José Manuel Díaz, que é um contrabaixista cubano, e com Carlos Freire, um percussionista galego. Tem a participação também do Sérgio Tannus, guitarrista brasileiro de Niterói, e do trombonista português Rúben da Luz.”

A experiência correu-lhe bem, mais ainda não era bem aquilo que Aline queria. “Longe disso. Era a procura de uma linguagem, de uma sonoridade. Hoje, com um novo disco gravado, consigo entender quais são os pontos fracos do anterior, principalmente a nível técnico.” Antes de Clave Bantu, Aline já gravara um disco, A Minha Embala (lançado também em 2011, em Julho). “Foi um projecto com um amigo [César Herranz, flauta transversal e percussão], de originais, também gravado na Galiza. Mas não era um projecto profissional.” O salto daí até Movimento, o disco lançado em 2013, passou por outros conhecimentos e aprendizagens. Como fizera em tempos a faculdade em Lisboa, Aline reaproximou-se de músicos que então conhecera. “Já tinha as ideias mais claras, queria actualizar o meu trabalho. Surgiu a oportunidade de gravar com uma editora portuguesa, pequena, a PonteZurca [com estúdios em Almada], e foi super-rápido. Havia alguma pressa, para lançar o disco antes do Verão. Isso teve um lado bom e um lado mau. O lado bom é que se ganha em frescura. Saímos directamente da sala de ensaios para o estúdio, estava tudo ainda muito apaixonado, com muito espaço para o improviso e para a espontaneidade. E eu valorizo muito isso, não gosto de gravações demasiado estáticas.”

Música e memória

Movimento, o novo disco, tem doze temas, onde as coordenadas musicais e geográficas de Angola estão bem presentes, mas onde se sentem as outras influências de Aline, como o Brasil ou Cabo Verde. Tanto, até devido ao videoclip presente no YouTube, será o tema mais rodado, mas a par dele insinuam-se As paredes do Mayombe, Desassossego, Ronda, A cidade que eu habito, Kalemba ou A última bossa. Aline, que não escreve nem lê música, procura junto com os músicos dar a cada canção a forma que para ela ambiciona. “Trabalho de uma forma completamente intuitiva, com a memória. Costumo dar inputs mais de sentimentos, ambientes, quase uma brincadeira poética. Estamos todos, eu e os músicos, como se estivéssemos em palco, e acabamos por conseguir coisas bastante originais.” No palco do São Luiz, na noite desta sexta-feira, vão estar com Aline Frazão os músicos que participaram na gravação do disco: Francesco Valente, contrabaixo e baixo eléctrico; Marcos Alves, bateria e percussão; Marco Pombinho, piano e Fender Rhodes; e, como convidado (no disco, os convidados foram os cabo-verdianos Miroca Paris e Vaiss), o guitarrista português João Pires. “Tem uma linguagem muito rica, um percurso muito interessante. Esteve muito tempo a viver em Cabo Verde e agora vive no Brasil.”

Ela, por seu turno, vive desde Novembro de 2013 em Barcelona. Está a fazer um curso ligado ao cinema (guionismo) e não faz ali vida de cantora. Quis afastar-se de Lisboa por um tempo. E vai com “muitíssima frequência” a Luanda. Pois é de lá que lhe vem a história. E a inspiração.






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