Pataca Discos, uma editora em construção

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João Paulo Feliciano criou a Pataca Discos em 2008: fica paredes-meias com o seu atelier, em Xabregas Rui Gaudêncio

A Pataca Discos é a casa de Bruno Pernadas, You Can’t Win, Charlie Brown, Walter Benjamin, Julie & The Carjackers e Real Combo Lisbonense

Um processo sempre em construção. É assim que o músico, artista visual e editor João Paulo Feliciano olha para a aventura de lançar discos através da Pataca Discos, casa de Bruno Pernadas, You Can’t Win, Charlie Brown, Walter Benjamin, Julie & The Carjackers e Real Combo Lisbonense. 

“Tem sido um crescimento gradual”, afirma. Em 2008 a editora foi constituída. Em 2009, teve início com o lançamento dos EP de estreia de Real Combo Lisbonense e de Márcia — “ainda sem edição própria e distribuição, mas através de licenciamentos à Optimus Discos”, recorda. Em 2010, acontece então a primeira edição própria, com o lançamento do álbum de estreia de Márcia, seguindo-se nos últimos anos registos dos You Can’t Win, Charlie Brown, Walter Benjamin e Julie & The Carjackers. 

A aventura continua em 2014: ainda este mês sairá o novo álbum dos You Can’t Win, Charlie Brown, Diffraction / Refraction (ver texto nestas páginas), e em Março haverá a aguardada estreia a solo de Bruno Pernadas, How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge. Lá mais para o Verão, haverá novo álbum do Real Combo Lisbonense. 

“Somos uma editora independente, que anda pé ante pé. Em 2013 colocámos algumas pedras e o efeito vai ver-se em 2014. Temos agora um sítio na Internet em condições e vamos abrir a loja digital, ao mesmo tempo que começamos a trabalhar com uma distribuidora que está mais ligada ao circuito internacional, a Pias-Edel, que poderá abrir portas.”

João Paulo Feliciano cresceu na década de 1980 para a realidade musical, enquanto melómano e músico nos Tina & The Top Ten, e reconhece uma diferença assinalável para a geração actual que acolhe na sua editora. “Existe mais competência em termos musicais, em particular em termos de execução”, afirma. “É uma coisa que cobre quase todas as áreas. Vê-se isso no fado, no jazz, no rock, na pop ou na electrónica. É resultado do maior e mais rápido acesso à informação e de o ensino de música se ter disseminado. Hoje existem múltiplas escolas de música. Há sem dúvida mais talento em Portugal hoje e isso é visível em todas essas áreas.” 

O que mudou também, e muito, foi a indústria da música, embora haja coisas que não se transformaram substancialmente, segundo ele. “A questão da identidade é a expressão mais central na ideia de ter uma editora hoje”, afirma. Ou seja, trata-se de “escolher e organizar coisas díspares e soltas, que as pessoas teriam dificuldade em captar”.

Actualmente qualquer músico, qualquer banda pode produzir uma gravação e disponibilizá-la. É por isso, segundo ele, que se torna “ainda mais importante ter uma identidade que organize a música — seja por familiaridade, analogia, sentido de comunidade ou afinidades estéticas — e lhe atribua uma visibilidade e um sentido de enquadramento, para que as coisas não se desperdicem num mar onde tudo pode existir”.

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