Rendimentos que famílias conseguiram a mais entre 2004 e 2009 perderam até 2012

"Ganhos foram perdidos na quase totalidade” até 2012, com a crise económica, diz Instituto Nacional de Estatística.

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Desemprego está agora com a taxa mais baixa dos últimos três anos.

Entre 2004 e 2009, as famílias portuguesas viram o seu rendimento disponível crescer, em média, dez pontos percentuais. Porém, “esses ganhos foram perdidos na quase totalidade” até 2012, com a crise económica, indica o Índice de Bem-Estar divulgado nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) – um trabalho que realiza pela primeira vez.

Segundo o INE, nos últimos três anos o chamado rendimento disponível mediano voltou para os níveis de 2004. E este não foi o único sinal: o indicador da vulnerabilidade económica também foi dos que apresentou uma evolução mais desfavorável “traduzindo uma progressiva vulnerabilidade das famílias fortemente induzida pelo afastamento das mesmas do mercado de trabalho, pelos elevados níveis de endividamento e pela intensificação da dificuldade em pagar os compromissos assumidos com a habitação”.

Por exemplo, só o índice da proporção de pessoas com mais de 15 anos a viverem em agregados onde todos os que tinham idade de trabalhar estavam desempregados teve um agravamento de 60 pontos percentuais. A taxa de pobreza é outro dos problemas identificados, como aliás já era na quinta-feira referido pelo Eurostat num trabalho de comparação entre Portugal e os outros países.

Os dados, de uma forma genérica, mostram que no espaço de oito anos, numa primeira fase, tanto os indicadores materiais como os relacionados com a qualidade de vida estavam a evoluir favoravelmente – mas a degradação da situação económica do país fez com que os primeiros sofressem uma inversão. No entanto, no campo do bem-estar, na área da saúde, educação e ambiente, muitos dos ganhos mantiveram-se, de acordo com o INE.

O trabalho do INE foi feito ao longo dos últimos três anos e é a primeira vez que este trabalho é compilado desta forma. Em 2004, todos os indicadores que o INE incluiu no estudo partiram de uma base “100”, estimando-se a partir daí as respectivas subidas ou descidas.

“Entre 2004 e 2011, a taxa de variação média anual do Índice de Bem-estar foi de 1,1%. Os dados preliminares relativos a 2012 projectam um pequeno decréscimo do índice, explicado pela quebra das condições materiais de vida. O Índice de Bem-estar em Portugal evoluiu positivamente entre 2004 e 2011, atingindo o valor de 108,1 em 2011, estimando-se uma redução para 107,6 em 2012”, lê-se no estudo do INE.

Ainda assim, o índice abordou duas perspectivas diferentes: as condições materiais e as condições de qualidade de vida, que evoluíram em sentidos opostos, isto é, a crise ainda não afectou tanto a segunda parte. “Enquanto o índice que explica a evolução das condições materiais de vida registou genericamente uma evolução negativa, atingindo o valor de 89,2 em 2011, o índice relativo à evolução da qualidade de vida apresentou uma evolução continuamente positiva, atingindo em 2011 o valor de 116,2.”

Qualidade de vida
No campo da qualidade de vida, há ainda um indicador chamado “trabalho e remuneração” e que é excepção no comportamento, já que também piora, “devido essencialmente ao aumento do desemprego, que se acentuou a partir de 2009” e que fez com que houvesse uma variação negativa de mais de 24 pontos percentuais. “Em sintonia com a evolução do desemprego, sublinha-se a evolução também desfavorável, a partir de 2008, do indicador proporção de pessoas que pensam ser provável ou muito provável perder o emprego”, lê-se no trabalho.

Do lado positivo salientam-se os indicadores na área da saúde, com uma melhoria global de quase 25 pontos percentuais. Para esta evolução contribuíram várias áreas como a avaliação positiva dos serviços de saúde, a queda da taxa de mortalidade em pessoas com menos de 65 anos por doenças do aparelho circulatório e a taxa de mortalidade infantil.

O campo da educação também mereceu uma avaliação positiva (prevendo-se um ligeiro decréscimo em 2012), contribuindo para isso dados como publicações científicas por 100 mil habitantes, doutoramentos, proporção de pessoas entre os 30 e 34 anos com o ensino superior completo ou redução dos chumbos e desistências no terceiro ciclo do ensino básico. Em termos de ambiente, destaca-se a redução da emissão de gases com efeito de estufa, sobretudo a partir de 2006.

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