Viktor Ianukovich, o "homem de Moscovo"

Milhares regressam à rua para contestar legitimidade política do Presidente ucraniano.

Foto
Ianukovich inspecciona as tropas russas em visita a Moscovo (imagem de arquivo). AFP/ALEXANDER NEMENOV

Não é apenas por causa das suas simpatias políticas, e muito menos pela sua figura imponente de quase dois metros de altura, e semblante enigmático, evocativo da aura impenetrável da Guerra Fria, que o Presidente da Ucrânia, Viktor Ianukovich, é conhecido no seu país como o “homem de Moscovo”.

A sua origem russa, bielorrussa e polaca; o passado violento como membro de gangs delinquentes; a sua meteórica ascensão profissional, política e social na província de Donetsk, e a associação aos interesses dos grandes oligarcas que se estabeleceram após o desmantelamento da União Soviética; ou a sua dificuldade em exprimir-se em ucraniano alimentaram, ao longo dos anos, as desconfianças dos seus inimigos políticos e de grande parte do eleitorado do país.

Não é, por isso, uma surpresa que perante a sua reviravolta negocial para a assinatura de um pacto de cooperação e acordo comercial com a União Europeia, Ianukovich esteja a ser, mais uma vez contestado como um fantoche político da Rússia. A acusação não é inédita na sua carreira: em 2004, a sua legitimidade democrática e aspirações políticas já tinham sido postas em causa, originando o processo conhecido como a Revolução Laranja. A sua candidatura, abertamente apoiada por Vladimir Putin, chegou a ser declarada vitoriosa, mas as provas de fraude eleitoral levaram o Supremo Tribunal a anular a votação.

Poderia ter sido o fim da sua carreira política. A Ucrânia tinha decididamente enveredado pela via das políticas liberais e iniciado o seu movimento de aproximação ao Ocidente – Viktor Ianukovich estava do lado errado da barricada. Mas em vez de desistir, decidiu adaptar-se: com a ajuda de consultores de imagem norte-americanos, reconstruiu a base de apoio para o seu partido das Regiões e reinventou-se politicamente, chegando novamente ao cargo de Presidente. Cinco anos depois da sua maior humilhação política, bateu sua arqui-rival Iulia Timochenko, que lhe sucedera como primeira-ministra, em eleições declaradas como justas e transparentes pelos observadores internacionais.

Apesar de ter declarado que a integração da Ucrânia na UE era o objectivo estratégico do seu Governo, e de ter escolhido Bruxelas para a sua primeira deslocação oficial, a sua “russofilia” manifestou-se imediatamente em várias das suas decisões políticas, como por exemplo a controversa extensão do contrato para o uso do porto de Sebastopol pela Marinha russa em troca da redução do preço de importação do gás natural.

Sugerir correcção
Comentar