Ana Gomes desvaloriza queixa-crime de ministro sobre estaleiros de Viana

Eurodeputada considera que negócio com a Martifer é "contrário aos interesses nacionais" e tem de ser investigado.

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A eurodeputada Ana Gomes desvalorizou nesta terça-feira o anúncio do ministro da Defesa de que vai avançar com uma queixa-crime por difamação no âmbito do processo de subconcessão dos estaleiros de Viana, salientando que mantém “tudo o que disse”.

“O senhor ministro faça o que entender, que eu vou fazer o que eu entender. Talvez essa queixa leve a que haja um inquérito na Assembleia da República e assim se faça uma verdadeira investigação a este processo muito nebuloso e pouco transparente de destruição dos estaleiros navais e da passagem dos activos a uma empresa provada”, afirmou Ana Gomes à agência Lusa.

Uma fonte do gabinete de José Pedro Aguiar-Branco disse na segunda-feira que o ministro da Defesa Nacional vai apresentar uma queixa-crime contra Ana Gomese outros autores de "declarações difamatórias" sobre o processo de subconcessão dos estaleiros de Viana.

“Já se iniciaram os procedimentos inerentes à apresentação da queixa-crime, pelo ministério, contra os autores de declarações difamatórias produzidas nos últimos dias, nomeadamente da eurodeputada Ana Gomes", disse a mesma fonte.

O processo surgiu na sequência de dúvidas levantadas publicamente pela eurodeputada e socialista sobre alegadas relações entre o ministro Aguiar Branco e o grupo privado Martifer. Ana Gomes mantém “tudo o que disse” sobre os estaleiros navais, reforçando que "é preciso fazer" uma investigação.

“O que eu disse é que é preciso investigar. O processo é tão contrário aos interesses nacionais, à doutrina europeia em matéria de segurança e defesa (…), tão pouco transparente com uma única empresa envolvida no processo e outra excluída por um e-mail que não terá chegado a tempo, segundo li na imprensa, que tem de haver uma investigação”, sublinhou.

A eurodeputada Ana Gomes lembrou que estão em causa os empregos de 600 trabalhadores, das suas famílias e de toda a actividade económica da zona de Viana do Castelo. “Sabemos que há muitas indústrias que dependem da laboração dos estaleiros de Viana (…). Este Governo nem se dignou a disponibilizar os 3 milhões de euros que a empresa precisava para cumprir contrato com os asfalteiros para a Venezuela que viabilizariam a laboração da empresa”, disse.

Na opinião de Ana Gomes, todo o processo é uma sucessão de “actos de má gestão, má política, de elementos perturbantes, destruidores dos interesses nacionais” e dos trabalhadores.

“Por isso, mantenho tudo o que disse, que é preciso investigar que tipo de interacções estão por trás deste contrato e tudo o que seja no sentido desse investigação incluindo a queixa-crime do ministro da Defesa é bem-vindo”, salientou.

Questionada sobre o anúncio do presidente da Martifer, Carlos Martins, em entrevista publicada hoje no Diário Económico, de que serão criados 1.000 postos de trabalho num prazo de cinco anos com os novos contratos que está a desenvolver na América Latina e no norte de África, Ana Gomes disse que “estas afirmações não garantem condições idênticas” às que os trabalhadores tinham.

“Mesmo que os trabalhadores ou parte deles sejam contratados, não há garantias de que daí resultem as mesmas condições contratuais de anos e anos de serviços que muitos deles têm”, disse.

Para Ana Gomes, as declarações de “Carlos Martins ou de quem quer que seja da empresa privada valem o que valem”. “Nós sabemos que a empresa não tem especial competência na gestão de estaleiros deste tipo como não tem também activos financeiros visto que estar ela própria deficitária e para o Estado o contrato é ruinoso”, disse.

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