Ex-jornalistas do News of the World declaram-se culpados em caso de escutas ilegais

É a primeira confirmação pública de práticas ilícitas por antigos jornalistas do tablóide de Rupert Murdoch. As atenções viram-se agora para Rebekah Brooks e Andy Coulson.

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A última edição do News of the World, publicada a 10 de Julho de 2011 e que fechou na sequência do escândalo das escutas Reuters/Luke MacGregor

Três antigos jornalistas do tablóide britânico News of the World (NoW), propriedade do milionário Rupert Murdoch, e entretanto extinto, declararam-se culpados nesta quarta-feira no caso das escutas ilegais a figuras da vida pública britânica, de acordo com a Reuters.

Os ex-editores do jornal Neville Thurlbeck, Greg Miskiw e James Weatherup já se haviam declarado culpados numa fase anterior do processo, segundo o procurador, mas só agora essa informação pôde ser tornada pública. O detective particular que foi contratado pelo NoW para proceder às escutas, Glenn Mulcaire, também se declarou culpado das acusações.

As declarações agora tornadas públicas constituem as primeiras admissões de culpa de antigos jornalistas do NoW desde que as investigações foram lançadas, em 2011.

Entre 2000 e 2006, jornalistas do NoW tiveram acesso a escutas de pelo menos 600 telefones de personalidades do mundo político e social do Reino Unido. Em 2007, uma notícia sobre a família real britânica levantou suspeitas e as investigações foram iniciadas. O jornalista e o detective que efectuaram as escutas foram condenados, mas a direcção insistiu que se tratava de um caso isolado, até que uma investigação do jornal The Guardian revelou que aquela era uma prática habitual e instigada pela direcção do NoW.

Durante a sessão do julgamento desta quarta-feira, o procurador responsável pela acusação referiu que “não existem justificações de qualquer tipo para que os jornalistas se envolvam em escutas telefónicas”. “Isso é uma intromissão na privacidade das pessoas, o que vai contra a lei”, considerou Andrew Edis, citado pelo The Guardian.

O procurador, dirigindo-se ao júri composto por nove mulheres e três homens, lembrou que o julgamento que agora começa será “longo” e que “há três tipos de comportamento ilícito” em causa. O primeiro é o das escutas ilegais conduzidas pelo detective privado contratado pelo jornal, Glenn Mulcaire, “que era muito bom a encontrar códigos pessoais” das pessoas escutadas, referiu Edis. O segundo é o de pagamentos ilegais a “responsáveis e funcionários públicos, agentes da polícia, soldados” em troca de informação confidencial. Finalmente, o terceiro está relacionado com a obstrução às investigações que se tinham iniciado em Julho de 2011. De acordo com o procurador, alguns dos réus “tentaram, em segredo, impedir que a informação chegasse à atenção da polícia”.

São oito pessoas que vão a julgamento no caso das escutas ilegais do NoW, mas as atenções vão concentrar-se em Rebekah Brooks, que chefiava a direcção do tablóide, e Andy Coulson, que substituiu Brooks em 2003 e foi entretanto contratado pelo primeiro-ministro, David Cameron, para seu chefe de comunicações. O julgamento promete arrastar-se durante os próximos meses, antevendo-se sessões em que serão esmiuçadas tanto as escutas e as tentativas para as omitir como as falhas da investigação inicial da polícia que, tal como boa parte da classe política, se mostrou durante anos demasiado cúmplice com as más práticas da imprensa tablóide.
 

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