A vez da esperança

A solução está cá em Portugal, depende de nós e da nossa capacidade de união e de mobilização em torno de um objectivo comum: o relançamento do país.

O governo entrou em funções numa altura em que o país estava tecnicamente falido, em bancarrota, só não incumprindo com as suas responsabilidades porque houve um resgate. É bom relembrar que de acordo com o Ministro das Finanças de então, Portugal não iria ter no mês seguinte ao do resgate capacidade para honrar os seus compromissos. Incumprir significava deixar de pagar salários aos funcionários públicos, deixar de pagar reformas, fechar hospitais, escolas e por aí adiante, um cenário dantesco que já aconteceu noutras latitudes e que ninguém equaciona sequer para Portugal, cenário do qual estivemos perto, bem mais perto do que muitos de nós hoje admitimos.

Nessa altura, como num barco que se está a afundar, a prioridade máxima foi dada às necessidades de curto prazo, na prática ao cumprimento das exigências impostas por quem nos emprestou dinheiro, a troika, porque a referida troika condicionou (e continua a condicionar) a libertação das verbas indispensáveis a podermos cumprir com as responsabilidades do Estado ao seguimento escrupuloso do memorando de entendimento, razão pela qual os empréstimos só são libertados depois das revisões. Ora já tivemos até ao presente sete revisões, felizmente todas positivas, razão pela qual todos os empréstimos chegaram a Portugal, podendo assim o Estado satisfazer com as suas responsabilidades em termos de pagamentos.

Paralelamente, e porque também constava do memorando de entendimento, foram lançadas uma série de reformas estruturais, reformas indispensáveis ao relançamento económico do país mas que só trarão bons resultados a médio e longo prazo. Entretanto, as tais medidas de curto prazo para de imediato aumentar receitas e reduzir despesas deram origem a efeitos colaterais gravíssimos, como o desemprego (o mais salto da nossa história) e a recessão económica, e dada a necessidade que ainda existe de equilibrar o défice é naturalmente de prever que os referidos efeitos colaterais, se nada for feito, ainda mais se agudizem.

E como é que se reduz o défice ao mesmo tempo que se reduz o desemprego e se promove o crescimento económico?

Existem soluções milagrosas, como por exemplo sairmos do euro, aproveitando a desvalorização do escudo para relançar as exportações, mas uma solução como essa implicaria sempre que teríamos de pagar as nossas dívidas em euros, o que implicaria um incumprimento quase imediato, fechando-se os mercados da dívida, e como continuamos a ter défice o país entraria em convulsão, a menos que viessem de novo em nosso socorro.

Outra possibilidade seria beneficiarmos de um Plano Marshall, que traria um fluxo de investimentos sem par a Portugal, que se reflectiria em crescimento económico e na consequente redução do desemprego, mas uma solução como essa assenta sempre, tal como a saída do Euro, no pressuposto de que alguém nos ajudará, o que não sabemos se vai acontecer.

Outra hipótese muito aventada é a renegociação do memorando de entendimento, e de novo caímos no engodo de pensar que alguém nos vai ajudar, neste caso a troika. Mas alguém de bom senso acredita que este governo (ou qualquer outro) não tenta junto do credor (troika) melhorar as condições do empréstimo?

Do exposto, a solução nem vai ser milagrosa nem nos vai ser oferecida pelos nossos parceiros internacionais ou pelos nossos credores, a solução está cá em Portugal, depende de nós e da nossa capacidade de união e de mobilização em torno de um objectivo comum, o relançamento do país, relançamento que tem de passar pelo investimento (privado) e pelo reequilíbrio das contas públicas.

É por essa razão que é de exigir agora aos nossos políticos, governantes e oposição, que se entendam de uma vez por todas, que incluam a sociedade civil (patrões, sindicatos, universidades) e se vinculem todos num programa de relançamento da Economia, programa que traga de novo confiança a todos os agentes económicos, pois sem confiança não há empreendedorismo nem investimento.

É preciso que haja uma redução imediata da crispação e que sejam criados consensos pelo menos sobre o que é estratégico agora, que é definirmo-nos enquanto país sobre um modelo de crescimento económico, não podem haver dúvidas sobre onde devemos alocar os nossos esforços de modo a rapidamente atrairmos investimento, o país tem recursos naturais e humanos (Mar, Agricultura, Criação de Software, Energias Alternativas, etc.) que podem ser aproveitados de uma outra forma.

Esta é a altura de mudar o chip, o discurso tem de ser outro, esta é a altura de nos centrarmos no que nos une e esquecermos o que nos separa, o País nunca mais perdoará aos nossos representantes que puserem os seus interesses à frente do interesse geral, é preciso agora relançar Esperança, pois existem razões para termos Esperança.

Eng. Agrónomo e Gestor de Empresas

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