Bruxelas alerta para riscos do ajustamento financeiro e desemprego na Irlanda

Comissão Europeia pede consenso político para o Governo irlandês cumprir as metas orçamentais. As perspectivas de crescimento mais fracas potenciam riscos.

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Bruxelas pede ao Governo de Enda Kenny uma “acção decisiva” para baixar o rácio da dívida JOHN THYS/AFP

A Comissão Europeia considera que a Irlanda está a fazer “progressos consideráveis” na aplicação do programa de assistência financeira acordada com a troika, mas alerta que o país ainda tem pela frente “escolhas difíceis” para equilibrar as contas públicas, o nível da dívida e para fazer face ao aumento do desemprego.

Os avisos constam do relatório da oitava revisão do Memorando de Entendimento irlandês, divulgado nesta segunda-feira.

Para o executivo comunitário, um dos parceiros que suportam o programa de resgate financeiro de 67,5 mil milhões de euros, não há dúvidas em relação ao comprimento das metas orçamentais, mas fazer esse ajustamento financeiro de uma forma equitativa, sustenta a Comissão, exige amplo apoio político (num executivo de coligação entre conservadores e trabalhistas), vai obrigar a fazer opções difíceis e a enfrentar interesses instalados.

Em relação à execução orçamental de 2012, a Comissão Europeia sublinha que a receita fiscal obtida foi superior à esperada na primeira metade do ano pelo executivo de Enda Kenny, mas piorou na última parte de 2012 e deverá ficar abaixo do previsto no orçamento num desvio equivalente a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Bruxelas alerta para uma possível deterioração das perspectivas de crescimento da economia – algo transversal ao conjunto da zona euro e da economia mundial e que potencia maiores riscos orçamentais.

Uma outra preocupação tem a ver com o aumento do nível de desemprego estrutural (aquele que não é absorvido mesmo num cenário em que a economia está no seu potencial máximo de crescimento). A taxa de desemprego deverá manter-se estável este ano, mas o desemprego de longo prazo – que diz respeito aos desempregados que estão à procura de emprego há, pelo menos, um ano – continuará a aumentar. Em Setembro, cerca de 60% dos desempregados preenchiam este universo.

Bruxelas calcula que a taxa de desemprego total em 2012 terá sido equivalente a 14,8% da população activa na Irlanda. Em 2013, prevê uma taxa de 14,7%, seguida de 14,2% no ano seguinte. Sé em 2015 deve ficar abaixo deste patamar.

“O elevado nível de desemprego persistente, com um aumento de natureza de longo prazo, é uma grande preocupação social e económica que precisa de uma resposta firme”, enfatiza a Comissão Europeia. “As reformas do mercado laboral estão a prosseguir e devem melhorar a capacidade da Irlanda promover uma retoma geradora de emprego no futuro”.

No curto prazo, porém, a retoma do antigo “tigre celta” continuará a ser frágil. Para este ano, a troika prevê um crescimento de 1,1% do PIB, menos do que projectava na avaliação anterior ao programa. Em 2014, deve seguir-se um crescimento de 2,2%.

O orçamento deste ano prevê um pacote de ajustamento equivalente a 780 milhões de euros (entre novas medidas e outras já anunciadas). A meta acordada com a troika é de um défice de 7,5% do PIB em 2013, de 5,1% em 2014, com o objectivo de o Estado terminar o ano de 2015 com um défice limite de 3%.

Para garantir que é cumprido o plano de ajustamento entre 2014 e 2015 vai ser feita este ano uma análise para definir prioridades em termos de despesas do Estado e outras medidas de ajustamento.

As reformas estruturais estão a ser implementadas de acordo com os objectivos do programa, assegura a Comissão. Mas, quanto à redução do défice, Bruxelas pede uma “acção decisiva” para baixar o rácio da dívida.

Quanto aos bancos, estão capitalizados num nível elevado relativamente a outros países europeus, mas a necessidade de reforçar capitais não pode ser excluída, o que deve levar os bancos a prevenir esse cenário, tomando medidas que reduzam os custos operacionais, acrescenta Bruxelas.
 

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