Numa Europa dividida, Chipre diz-se à beira do resgate económico

Chefes de Estado da União Europeia estão em Bruxelas para discutir o orçamento comunitário, cuja proposta está a gerar forte controvérsia. Itália e Portugal já se mostraram contra

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Fortes divergências marcam cimeira europeia Yves Herman/Reuters

O presidente do Chipre, Dimitris Christofias, admitiu esta quinta-feira que o país está "muito perto" de pedir um resgate económico, posição corroborada pelo ministro das Finanças.

 

As "muito pequenas" diferenças entre o país e os futuros credores da troika deverão ser ultrapassadas "muito em breve", disse Dimitris Christofias em texto divulgado em Nicósia, capital do Chipre. O governante das Finanças, Vassos Shiarly, disse também hoje que o Chipre precisa de 17 mil milhões de euros até 2016, sendo que 10 mil milhões consistem em necessidades do sector bancário do país.

Este será mais um assunto à mesa dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) que estão esta quinta-feira em Bruxelas, onde iniciam uma cimeira extraordinária sobre o orçamento comunitário para 2014-2020.

Apesar de a grande maioria dos líderes reconhecerem a importância de ser alcançado um compromisso e evitar um novo fracasso que transmita para o exterior a mensagem de que a UE é incapaz de tomar decisões, o Conselho Europeu, com desfecho incerto, até a nível de datas - a reunião poderá "entrar" pelo fim-de-semana - arrancará sob o signo de fortes divergências.

Grandes desavenças

Estas divergências assentam em profundos desacordos entre os países que mais contribuem para o orçamento comunitário, como o Reino Unido, e os que dele mais beneficiam, como Portugal e os restantes países "Amigos da Coesão".

 

Portugal considera inaceitável a última proposta de Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, que prevê cortes na ordem dos 80 mil milhões de euros comparativamente à proposta inicial da Comissão Europeia para o envelope financeiro global, e reduções na ordem dos 17 por cento nos fundos comunitários, tendo a seu lado os restantes 14 Estados-membros que pertencem ao grupo dos “amigos da coesão”.

Na quarta-feira, Pedro Passos Coelho garantiu, num debate na Assembleia da República, que Portugal terá uma "visão realista" e não rígida, para viabilizar um acordo entre os 27. “A proposta formulada pela presidência do Conselho é, a todos os títulos, inaceitável para Portugal”, pelo que “bloquearia uma decisão do Conselho que tivesse essa proposta como resultado final”, afirmou o primeiro-ministro.

Hoje foi a a vez de o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, considerar “absolutamente essencial” que Itália tenha melhores condições que as da actual proposta de orçamento da União Europeia e assegurou que não a vai aceitar tal como está.

Em declarações à imprensa à chegada ao Conselho Europeu, Monti assegurou que vai bater-se por mais fundos de coesão e mais fundos agrícolas e por uma repartição mais benéfica das contribuições.

“Itália, até agora, tem estado proporcionalmente penalizada”, disse Monti.

O primeiro-ministro italiano afirmou que, para Itália, “não é importante” baixar o tecto da despesa total do orçamento – uma prioridade para vários países, entre os quais a Alemanha e o Reino Unido – porque “determinadas coisas fazem-se com muito mais eficácia a nível comunitário que nacional”.

Monti repetiu que não vai aceitar “soluções que considere inaceitáveis”, mas que está disposto a trabalhar de "forma construtiva”.

“Esta é uma negociação muito séria e difícil. Estão em jogo os próximos sete anos da UE e temos três objectivos fundamentais: a equidade, a solidariedade e o uso eficiente dos recursos”, disse.

Entretanto, o primeiro-ministro português já foi recebido, em Bruxelas, pelos presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia para discutir a posição de Portugal sobre a proposta de orçamento comunitário para 2014-2020, indicou hoje fonte diplomática.

O encontro insere-se na ronda de consultas que os presidentes das duas instituições europeias estão a fazer por todas as capitais, antes do início da cimeira extraordinária, marcado para as 20h.

Antes do arranque formal da cimeira, Herman van Rompuy e José Manuel Durão Barroso recebem cada um dos 27 chefes de Estado e de Governo da UE, tendo o presidente do Conselho previsto elaborar após estas consultas uma nova versão da proposta que os líderes começarão a negociar à noite.

Além do encontro com os presidentes do Conselho e da Comissão, Pedro Passos Coelho tem, para já, previstos seis encontros bilaterais com outros líderes europeus, designadamente, os primeiros-ministros da Polónia, Donald Tusk, da República Checa, Petr Necas, de Itália, Mario Monti, e de Espanha, Mariano Rajoy.

Pedro Passos Coelho vai ainda reunir-se com o presidente francês, François Hollande, e com a chanceler alemã, Angela Merkel, além de participar numa reunião dos 15 líderes dos países "amigos da coesão".

 

 

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