Líder da oposição na Geórgia recusa votar no dia das eleições

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"Vim para a política não para a injustiça mas para restabelecer a justiça”, disse Ivanichvili David Mdzinarishvili/Reuters

O homem mais rico da Geórgia, que lidera a coligação que se opõe ao partido do Presidente Mikhail Saakachvili nas legislativas desta segunda-feira, anunciou que recusa votar e denuncia “muitas violações” cometidas pelas autoridades.

“As autoridades mudaram a Constituição um milhar de vezes, adaptando-a às suas necessidades”, disse à RIA Novosti o milionário Bidzina Ivanichvili, que lidera a coligação O Sonho da Geórgia, que se opõe ao Movimento de Unidade Nacional de Mikhail Saakachvili, no poder desde 2003.

Dado como favorito, com 65%, numa sondagem realizada pela empresa alemã Forsa, ainda que sondagens anteriores apontem para um desfecho imprevisível destas eleições, Ivanichvili, dono de uma fortuna de mais de 6000 milhões de dólares feita na Rússia, tem actualmente nacionalidade francesa. As autoridades da Geórgia recusaram devolver-lhe a cidadania georgiana, mas em Maio deste ano o Parlamento aprovou uma mudança constitucional que permite aos cidadãos da União Europeia que tenham nascido na Geórgia e aí vivido durante mais de cinco anos votar e candidatar-se a eleições, sublinha a RIA Novosti. No entanto, apresar de se ter candidatado, Ivanichvili criticou a mudança, que disse ter sido feita especificamente para ele, e anunciou que não iria votar. “Não vou usar a oportunidade dada. Vim para a política não para a injustiça mas para restabelecer a justiça”, disse à agência russa.

No entanto, o líder da oposição na Geórgia sublinhou que nestas eleições os georgianos terão “a oportunidade de fazer uma escolha que se aproxima de ser verdadeiramente democrática”. A sua popularidade aumentou durante a campanha eleitoral que foi marcada por denúncias de atropelos aos direitos humanos e pela divulgação de imagens de tortura e abusos sexuais na prisão de Gldani que foram transmitidas por duas estações de televisão ligadas à oposição. As críticas levaram Saakachvili a reforçar a sua retórica nacionalista e pró-ocidental que o fez chegar ao poder, defendendo que uma vitória da oposição permitirá à Rússia dominar a antiga república soviética. Em 2008 Geórgia e Rússia estiveram em guerra, depois de Moscovo ter invadido a Ossétia do Sul para apoiar esta região separatista.

As urnas abriram às 8 horas em 3700 centros de voto dos 73 distritos eleitorais e ao início da tarde já tinham votado 45% dos 3,6 milhões de eleitores. Um grupo de organizações de que faz parte a International Society for Fair Elections and Democracy (ISFED), uma associação de jovens advogados da Geórgia e a organização Transparência Internacional detectaram pelo menos 71 irregularidades desde o início da votação, segundo a RIA Novosti.

No escrutínio participam 2805 candidatos de 14 partidos e duas coligações, que disputam os 150 lugares no Parlamento. Estas eleições representam o principal teste à popularidade de Mikhail Saakachvili desde que chegou ao poder. Ivanichvili descreveu-as como “algo perto de uma eleição democrática, acusou o Presidente de “distorcer” a Constituição e garantiu que é favorável à adesão da Geórgia à União Europeia e à NATO, mas também ao restabelecimento das relações com a Rússia interrompidas em 2008.

“Hoje é a primeira vez na história da Geórgia que o Governo irá mudar através de eleições”, disse o magnata que lidera a oposição. Ainda antes de serem divulgados quaisquer resultados, a coligação O Sonho da Geórgia convocou os apoiantes para se juntarem no centro da capital, Tbilissi, para “celebrar a vitória e defender os votos alcançados”.

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