Síria viveu ontem o dia mais sangrento desde o início da revolta

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Edifícios destruídos ou danificados em Al Khalidieh Reuters

O balanço de vítimas mortais nesta quarta-feira na Síria ultrapassou as 340 pessoas, na esmagadora maioria civis, tornando este o dia mais mortal no país desde que há 18 meses eclodiu a revolta contra o regime do Presidente Bashar al-Assad.

“Este número será mais elevado se contarmos os corpos das vítimas que não foram ainda identificados”, sublinhou o chefe do Observatório sírio dos Direitos Humanos (organização com sede em Londres e uma vasta rede de activistas na Síria), Rami Abdel Rahmane, citado pela agência noticiosa francesa AFP.

Pelo menos 199 dos 343 mortos contabilizados são civis. “O que mais é preciso para o mundo ajudar o povo sírio?”, pergunta Rami Abdel Rahmane. “Todos os dias morrem centenas de pessoas”, insistiu, reiterando o apelo de uma intervenção estrangeira no país, mergulhado numa guerra civil de facto que já acumula mais de 20 mil mortos, segundo as estimativas das Nações Unidas, ou 30 mil, de acordo com activistas da oposição na Síria.

“O regime aumenta a violência a cada oportunidade e este número de mortes atesta a determinação com que querem esmagar a revolta por quaisquer meios necessários”, denunciou por seu lado Rafif Jouejati, porta-voz da Coordenação Local dos Comités da Síria – grupo de oposição a Assad –, acusando o regime de Damasco de estar “disposto mesmo a cometer genocídios”.

O segundo dia mais sangrento na Síria desde Março de 2011 – quando se deram as primeiras manifestações, então pacíficas, contra o regime – foi a 25 de Agosto passado, em que morreram 330 pessoas. E, antes disso, a 19 de Julho, em que foram mortas 302 pessoas.

Jouejati exemplifica o aumento da violência por parte do exército sírio com “o brutal massacre” ocorrido nestes últimos quatro dias na cidade de Al Thiabieh, nos arredores a sul da capital, Damasco, onde 107 residentes foram mortos nos bombardeamentos dos helicópteros e artilharia pesada do exército e nos combates das forças leais ao regime com os grupos armados da rebelião.

Segundo o Al-Jolan Media Center, um dos grupos de oposição em Al Thiabieh, a ofensiva do exército intensificou-se no domingo, depois de combatentes do rebelde Exército Síria Livre lançarem uma série de contra-ataques nos arredores de Damasco, e houve momentos em que “a chuva de obuses não parava”. “Finalmente ontem, como não tinham mais do que espingardas e eram poucos, [os rebeldes] acabaram por retirar” daquele subúrbio, de 70 mil habitantes, precisou aquela fonte.

“Estes números de mortes são cada vez mais horríveis, mas é importante que o mundo saiba também que há igualmente uma prática crescente de tortura – e que são cada vez mais as crianças torturadas”, insistiu o porta-voz dos Comités rebeldes. Esta prática fora exposta na terça-feira, num relatório da organização de direitos humanos britânica Save the Children, dando conta de uma prática generalizada e em crescendo de abusos contra as crianças na Síria, desde detenções arbitrárias a raptos e tortura.

Ontem mesmo, de resto, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, aludiu na Assembleia Geral das Nações Unidas à vaga de violência contra as crianças que está a ser cometida na Síria e criticou a organização pela inacção demonstrada ao longo do conflito.

“O sangue destas crianças constitui uma mancha horrível na reputação das Nações Unidas. E em especial na reputação daqueles que não se têm erguido contra tais atrocidades e até, em alguns casos, ajudado Assad a manter o seu reino de terror”, acusou Cameron, referindo-se à oposição que Rússia e China têm mantido no Conselho de Segurança à aprovação de medidas condenatórias do regime de Damasco.

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