Crianças sírias contam histórias de horror: torturas, raptos e detenções

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Menina síria numa manifestação contra o regime, em Abril, nas mãos inscritas as palavras "Liberdade para sempre" Reuters

Praticamente todas as crianças ouvidas pelos investigadores da Save the Children contam ter visto ser morto pelo menos um familiar, algumas foram queimadas com cigarros, submetidas a choques eléctricos, presas em celas com corpos em decomposição: são histórias de horror do que se passa na guerra na Síria, agora apresentadas num relatório daquela organização britânica.

O documento, feito com os testemunhos de crianças sírias que conseguiram fugir com as famílias para um campo de refugiados no norte da Jordânia (onde 65% dos habitantes são crianças), apela a uma maior presença no terreno das Nações Unidas na Síria, que permita registar “as atrocidades”, de forma a julgar os responsáveis, e dar alguma protecção às vítimas.

A ONU estima que desde o início do conflito há 18 meses foram mortas mais de 20 mil pessoas (30 mil na contagem dos activistas rebeldes sírios). O protesto eclodiu com manifestações pacíficas contra a corrupção e por melhores condições de vida, brutalmente reprimidas pelas autoridades de Damasco com tanques e soldados.

Mais de 260 mil pessoas fugiram da Síria para países vizinhos e crê-se também que mais de 1,2 milhões estão deslocados dentro do país, forçados a abandonar as suas casas pela campanha de perseguição do regime do Presidente Bashar al-Assad e os combates entre o exército e as forças armadas rebeldes.

A violência que está a ser cometida contra as crianças é “consistente, recorrente e revoltante”, sublinha o relatório, divulgado um dia após o novo enviado das Nações Unidas e Liga Árabe à Síria, Lakhdar Brahimi, ter descrito a situação naquele país como “extremamente grave e a piorar”.

A Save the Children documenta neste relatório vários casos de abusos e violações dos direitos humanos cometidos no conflito sírio. A investigação foi lançada depois das notícias que eclodiram de que crianças estavam a ser detidas e torturadas na cidade rebelde de Deraa, após terem inscrito numa parede slogans usados nas revoltas na Tunísia e Egipto durante a Primavera Árabe.

Uma das crianças ouvidas, um rapaz de 15 anos, contou à Save the Children que foi mantido preso no edifício onde era a sua escola, onde os seus captores o queimaram com cigarros. Outro relatou ter sido submetido a choques eléctricos e forçado a ficar numa cela onde se encontravam corpos em decomposição. Outro ainda narrou ter visto uma outra criança, de seis anos, morrer após ser espancada e deixada sem comer: “Ele sobreviveu três dias [após a tortura] e depois morreu. Vi-o morrer”, descreveu este adolescente, identificado no documento como Wael, de 16 anos.

“As coisas que ouvi estas crianças contarem são absolutamente chocantes. Ouvi relatos de que crianças com não mais de dez anos foram torturadas. Ouvi relatos de crianças, de não mais do que oito anos, que ajudaram a remover corpos dos escombros das suas casas, com as suas próprias mãos”, frisou a porta-voz da organização britânica, Cat Carter.

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