Refer fecha mais 65 quilómetros de linhas

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O fecho de linhas vai alterar o percurso do comboio Lusitânia Expresso, entre Lisboa e Madrid Carlos Lopes

A CP vai comunicar nesta sexta-feira aos municípios de Marvão, Castelo de Vide e Crato que deixará de fazer serviço na linha férrea que atravessa estes concelhos a partir de 15 de Agosto devido ao seu encerramento por parte da Refer. Uma comunicação que é meramente simbólica pois a transportadora ferroviária há mais de um ano que desistiu do serviço regional naquela zona do país, limitando-se a nela fazer passar todas as noites, nos dois sentidos, o comboio-hotel Lusitânia Expresso entre Lisboa e Madrid.

A Refer entende que não se justifica manter activos aqueles 65 quilómetros de linha unicamente para a passagem de dois comboios, tanto mais que existe a vontade da CP e da sua congénere Renfe de o fazer passar pela linha da Beira Alta, servindo assim cidades com mais mercado como Pombal, Coimbra, Nelas, Mangualde, Guarda e Salamanca.

O encerramento do ramal de Cáceres estava, além disso, contemplado no PET até Dezembro de 2011, o que não veio a acontecer porque do lado espanhol se levantou uma onda de protestos, por parte da Junta da Extremadura, contra o encerramento daquela linha fronteiriça que, na perspectiva espanhola, deixaria mais isolada aquela região.

A CP e a Renfe, no entanto, chegaram a acordo de que a transferência do Lusitânia para a Beira Alta deveria ser apresentada à opinião pública como uma consequência do encerramento do ramal de Cáceres, ficando assim a Refer com o opróbrio da questão.

Tema que, no entanto, não é pacífico porque para a região da Extremadura é ponto de honra que o Lusitânia continue a passar por Cáceres. Ainda há duas semanas o site do governo regional anunciava um conjunto de medidas “acordadas com o Ministério de Fomento [governo central]”, que incluíam o reforço dos serviços ferroviários na região, uma nova ligação diurna entre Cáceres e a estação fronteiriça de Valência de Alcantara e “a manutenção do comboio Lusitânia”.

Esta não é a primeira vez que a CP, com o acordo da Renfe, tenta mudar o trajecto daquele comboio internacional, tendo falhado até agora devido à oposição do lobby estremenho (que tem sido apoiado pelo município de Marvão e grupos de entusiastas do caminho-de-ferro).

O ramal de Cáceres representa o caminho mais curto entre Lisboa e Madrid por via férrea, mas a transferência do Lusitânia para a Beira Alta não implica um tempo de trajecto muito maior porque, tratando-se de um comboio-hotel deve ter uma marcha larga para que as pessoas aproveitem a noite a bordo (possui restaurante e compartimentos com WC e duches privativos). Actualmente o percurso é feito em nove horas e meia.

A CP e a Renfe exploram conjuntamente este serviço, que tem registado prejuízos anuais de quatro milhões de euros. A mudança de rota poderia ser uma forma de obter mais receita.

A somar prejuízos a CP conta ainda com o Sud Expresso (Lisboa-Hendaya, com ligação a Paris), no qual perde cinco milhões de euros por ano. A empresa pretende que, a partir de Setembro, o Lusitânia e o Sud circulem num comboio único entre Lisboa e Salamanca, a partir do qual a composição seria dividida, seguindo um ramo para Madrid e outro para França. O objectivo é cortar nos prejuízos.

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