CERN vai testar se neutrinos são mais rápidos do que a luz

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As teorias que interpretam o Universo apoiam-se no facto de que não há nada mais rápido do que a luz NASA/Reuters (arquivo)

A procura pela confirmação de que os neutrinos são mais rápidos do que a luz continua no Laboratório Europeu de Física de Partículas (Cern). Os cientistas, do projecto OPERA, anunciaram novas experiências sugeridas pela comunidade científica para testar a alegada descoberta anunciada no mês de Setembro.

Para já a luz continua a ser a partícula (e onda) mais rápida do Universo, a viajar a 299.792 quilómetros por segundo. É sobre esta propriedade do Universo que as teorias físicas como a da Relatividade foram erigidas.

Mas a experiência feita entre Genebra, na Suíça, e Gran Sasso, em Itália, fez estremecer estas concepções e produziu um rol de respostas cépticas que questionavam a experiência.

A equipa trabalhou com o neutrino, uma partícula sub-atómica, que não interage grandemente com a matéria, atravessa o corpo das pessoas. Os cientistas enviaram pulsos de neutrinos a partir do laboratório do Cern, em Genebra, até ao laboratório de Gran Sasso. A viagem das partículas era feita debaixo da terra, pelas rochas, e os neutrinos percorreram em média os 732 quilómetros em 0,0024 segundos, menos 0,000.000.06 segundos do que a velocidade da luz, segundo as medições feitas pelos cientistas.

A equipa, composta por investigadores de 30 instituições e de 11 países, não conseguiu encontrar nenhum erro na experiência, e sendo os resultados tão surpreendentes, resolveu divulgá-los ao mundo em primeira mão, antes de os publicar numa revista com revisão feita pelos pares.

“Tentámos encontrar todas as explicações possíveis para isto”, disse na altura Antonio Ereditato, um dos membros da equipa, à BBC News. “Quando não se encontra nenhum erro [na experiência], então pensamos ‘bem, somos forçados a pedir ajuda à comunidade para escrutinar isto’.”

As medições da velocidade dos neutrinos foram uma das críticas apontadas pelos outros físicos e teóricos, que argumentavam haver um erro sistemático das medições que comprometia este resultado.

Na experiência, os cientistas não enviavam um neutrino de cada vez. Produziam um feixe de protões, que ao interagir numa série de reacções transformava-se num feixe de neutrinos que então viajava os 732 quilómetros. Quando chegava a Itália os cientistas mediam o tempo que o feixe tinha demorado a percorrer o trajecto, e obtinham uma média.

Mas a emissão dos feixes de protões durava 0,000.01 segundos, o que pode parecer um instante muito pequeno, mas segundo a comunidade científica era muito longo para medir diferenças de tempo de 0,000.000.06 segundos.

Muitos cientistas sugeriram à equipa para enviar uma série de pulsos mais pequenos, de dois nanossegundos, ou 0,000.000.002 segundos, espaçados por fatias de tempo maior de 0,000.0005 segundos. Assim, “cada neutrino que chega a Gran Sasso, associa-se sem ambiguidade com um determinado feixe de protões emitidos no Cern”, disse à BBC News Sergio Bertolluci, director de investigação do Cern.

Talvez assim os cientistas consigam confirmar se os neutrinos são ou não mais rápidos do que a luz. Esperam-se resultados já nos próximos meses.

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