Sucesso da cimeira europeia ameaçado por falta de acordos

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Líderes francês e alemã discordam entre si quanto ao papel do BCE na resolução da crise Jesco Denze/Reuters

A horas de arrancar uma cimeira decisiva sobre o euro, multiplicam-se os sinais de desentendimento entre os parceiros europeus. E enquanto procuram salvar a moeda única, a Itália dá mais uma dor de cabeça à zona euro. Em Bruxelas, joga-se o futuro da Europa. Em Roma, o futuro da coligação.

Os líderes europeus partem para a cimeira de Bruxelas na quarta-feira com a máxima pressão dos mercados para fechar um acordo sobre resolução da crise europeia, ao mesmo tempo que o primeiro-ministro de Itália, Silvio Berlusconi, tenta com o principal aliado da coligação governamental, a Liga do Norte, superar a tempo as divisões para cumprir uma missão que a Europa lhe exige – um acordo para aprovar mais austeridade.

A perspectiva de ser finalizado um amplo acordo entre os chefes de Estado e de Governo da União Europeia e da zona euro amanhã em Bruxelas foi sublinhado pelo presidente do eurogrupo, o luxemburguês Jean-Claude Juncker. Mas a horas da cimeira, os líderes europeus têm ainda por decidir a forma de reduzir parte substancial da dívida grega detida pelos privados, o planeamento de recapitalização de bancos europeus e a forma de alargar a capacidade de intervenção do fundo de socorro do euro (FEEF). São as questões centrais que se jogam em Bruxelas.

O fundo, agora composto por 440 mil milhões de euros (parte dos quais já utilizados no apoio aos países em dificuldades, como Portugal), deverá ser reforçado de modo a evitar o contágio a países como a Espanha e Itália.

E uma das estratégias, segundo avançou a agência Reuters, poderá passar pela formação de um veículo especial de investimento, cujo capital poderia contar com a participação do FMI, bem como de fundos soberanos. Se a proposta avançar, já não seria necessário um esforço financeiro adicional (via garantias) dos países europeus. Isto depois de a França ter cedido às posições alemãs e desistido da ideia de permitir ao FEEF financiar-se junto do Banco Central Europeu (BCE).

Mostrando-se confiante num acordo duradouro, Juncker sublinhou a urgência de envolver “ao máximo” o Fundo Monetário Internacional (FMI) no plano de resolução da crise, sendo o fundo uma das instituições da troika que acordou os programas de ajustamento externo à Grécia, à Irlanda e a Portugal.

Alemanha contra intervenção do BCE

Outro sinal de que a cimeira de chefes de Estado e de Governo da UE e da zona euro está longe de ser um sucesso garantido veio de Angela Merkel.

Questionada sobre uma versão preliminar de preparação da cimeira que dava conta do desejo dos líderes europeus de que o BCE continue a aplicar “medidas não convencionais no actual ambiente extraordinário que se vive nos mercados financeiros”, a chanceler alemã disse que “essa frase não tem” o acordo alemão. Um sinal de que permanecem os desentendimentos entre a Alemanha e outros parceiros europeus, nomeadamente a França, sobre o papel que o BCE deve desempenhar na resolução da crise.

Merkel, para explicar o desacordo alemão em relação a esta matéria, disse que não queria uma declaração de políticos a dizerem ao BCE aquilo que deve fazer. Entre as medidas não convencionais aplicadas pela autoridade monetária está a compra de Obrigações de Tesouro de países da moeda única no mercado secundário.

À parte do optimismo revelado pelo presidente do eurogrupo, o Conselho Europeu anunciou o cancelamento das reuniões preparatórias dos ministros das Finanças da UE e da zona euro antes da cimeira de líderes. Uma decisão anunciada com parcas explicações e conhecida a meio da tarde, quando nos mercados financeiros já se antecipava um fecho em baixa nas bolsas europeias: -2,1% em Lisboa, -1,43% em Paris, -1,41% em Frankfurt e -1,06% em Milão. Um sentimento negativo que se prolongou em Nova Iorque, onde os índices encerraram negativos: o índice Dow Jones -1,69% e o Nasdaq -2,28%.

Ameaça de crise política em Itália

A dominar as preocupações europeias está ainda a Itália, que, para mal da vontade dos parceiros europeus, permanece sem acordo interno para aprovar mais reformas estruturais a tempo do Conselho Europeu.

Angelino Alfano, até Julho ministro da Justiça e actual secretário-geral do Povo da Liberdade, o partido de Berlusconi, mostrava-se ao final da tarde confiante num acordo que ponha fim ao impasse com a Liga do Norte e permita novas medidas de austeridade, como o aumento da idade da reforma para os 67 anos.

No intervalo entre a cimeira do último domingo e a que decorre amanhã, cresceram os sinais nos mercados perante uma crise política iminente em Itália. Os juros da dívida italiana a dez anos (o prazo de referência) subiram nos mercados secundários para próximo dos 6%, no dia em que Umberto Rossi, líder da Liga do Norte, assumiu que o executivo está “em risco”.

Numa demonstração de unidade, contrária às divisões veiculadas pela Liga do Norte, Alfano veio mais tarde sustentar que os dois partidos estão unidos quanto à resposta que Itália quer “mostrar à Europa". Uma resposta “sobre o que fizemos e o que pretendemos fazer”.

Notícia actualizada às 21h35
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