India: Aumentam protestos em apoio de activista anticorrupção e contra o Governo

Foto
Manifestação junto à Porta da Índia, em Nova Deli B Mathur/REUTERS

Dezenas de milhares de pessoas saíram à rua para protestar contra a prisão de Anna Hazare, o activista contra a corrupção que foi preso para não fazer greve de fome por reclamar uma legislação mais dura. Recusou ser libertado, está a fazer greve de fome na cadeia e tornou-se um problema político para o primeiro-ministro Manmohan Singh.

Falando esta manhã no Parlamento, Manmohan Singh lançou críticas ferozes à campanha de protestos anti-corrupção iniciada por Hazare, cuja greve de fome “até à morte” qualificou como “totalmente infundada” e mesmo “um desafio inconstitucional à autoridade” do Executivo. A conduta do activista de 74 anos, disse o governante, visa “deliberadamente o conflito”. “A questão sobre quem redige a lei e quem faz a lei é uma prerrogativa exclusiva” do Parlamento, insistiu, num discurso amiúde vaiado pelos deputados da oposição.

A avaliação de que Hazare procura o conflito não parece estar errada. Mas Singh, de 78 anos, mordeu o isco: antes da detenção do activista, a polícia notificara-o apresentando seis condições para que a greve de fome fosse feita, incluindo uma limitação de três dias a esse protesto. Impôs ainda que não mais de cinco mil pessoas se reunissem no local.

Se ontem os apoiantes de Hazare já tinham saído para a rua em várias cidades, e houve mais de 1200 detenções, nesta quarta-feira as manifestações foram ainda maiores, mobilizadas através do Twitter e do Facebook. Só no centro de Nova Deli, 15 mil pessoas saíram para a rua, diz a Reuters. No estado de Assam, no norte da Índia, milhares de agricultores, estudantes e advogados marcharam pelas ruas em apoio a Hazare e houve também manifestações na capital financeira do país, Bombaim, além de Chennai, Bangalore, Calcultá e outros locais, como Chandigarh, Hyderabad, Ahmedabad, Amritsar e Bhubaneshwar. Advogados do Supremo Tribunal anunciaram a intenção de sair para a rua mostrando o seu apoio a Hazare, e os condutores de riquexós entraram em greve, diz a BBC online.

“O Governo não sabe o que está a fazer”, disse Kuldip Nayar, um analista político veterano. “Está a trocar os pés pelas mãos. Não percebem a profundidade do ressentimento que existe na sociedade.”

Hazare, de facto, tocou num nervo exposto de milhões de indianos ao exigir leis mais duras contra a corrupção que existe a todos os níveis. A sua detenção, e o anúncio, algumas horas depois, de que fora dada ordem para a sua libertação, confirmou a sensação, comum a muitos indianos, de que o Governo está paralisado, demasiado sobrecarregado com escândalos para conseguir governar de forma eficaz a terceira maior economia da Ásia, adianta a Reuters.

Muitos dos manifestantes são jovens, com mochilas às costas: “Não temos fé no Governo”, disse Sujeet, um jovem engenheiro informático da cidade de novas tecnologias de Gurgaon, que protestava junto às Portas da Índia, na capital. “Estamos a viver numa democracia que o é apenas em espírito”. Mas também há pessoas mais velhas – algumas vestidas como Hazare, com o seu chapeuzinho branco característico, a sua kurta (camisa branca comprida) branca.

Sugerir correcção
Comentar