Iodo radioactivo libertado em acidentes nucleares afecta mais as crianças

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Imagem aérea do reactor quatro de Tchernobil, que explodiu em 1986

No Instituto de Patologia e Imunologia Nuclear, Ipatimup, na Universidade do Porto, a equipa de Manuel Sobrinho Simões é uma das seis no mundo que analisa ainda hoje amostras de cancro da tiróide de doentes afectados pela radiação libertada pelo acidente nuclear de Tchernobil, em 1986. A prevalência da doença em Tchernobil e regiões limítrofes aumentou mil vezes. E no mundo todo também ocorreu um aumento, apesar de a ciência não conseguir provar uma relação de causa-efeito. Só em 2005 o número de casos começou a diminuir. São as crianças as principais afectadas.

“Quando acontece um acidente nuclear, é libertado iodo radioactivo, que é fixado, principalmente pelas chuva, nas pastagens, contaminando o gado e o leite produzido por esse gado”, explica Sobrinho Simões, comentando o que pode agora acontecer no caso do Japão, onde o nível de alerta por causa da libertação de radiação tem aumentado, após os problemas sentidos nos últimos dias na central nuclear de Fukushima 1 provocados pelo sismo de dia 11.

Trata-se de radiação beta, explica o cientista, que não penetra em grande profundidade no organismo, ao contrário da radiação gama libertada pela bomba atómica, como aconteceu em Hiroshima, e que provocou mais casos de leucemia e cancro do intestino. A principal consequência da contaminação com esta radiação é o desenvolvimento de cancro da tiróide.

Uma das medidas de prevenção é a distribuição de pastilhas de iodo, para saturar a tiróide e evitar a fixação do iodo radioactivo. Isto já está a ser feito no Japão.
Portugal lidou também com outro tipo de radiação, a alfa, comum nas explorações de urânio que existiam no país. Esta radiação também existe no urânio empobrecido usado no armamento – esse de penetração mais superficial, provocando essencialmente cancro da pele.

“As crianças são as principais afectadas, uma vez que o iodo é fixado na tiróide, que só cresce até aos 15 anos. As crianças consomem também mais leite, o que aumenta o risco.” Sobrinho Simões refere ainda que após Tchernobil foram detectados casos de contaminação até em fetos, que acabaram por desenvolver cancro da tiróide.

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