Espião iraquiano "Curveball" confessa ter inventado programa de armas químicas

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Janabi confessa que queria ver-se livre do regime de Saddam Goran Tomasevic/REUTERS

O informador iraquiano que os serviços secretos norte-americanos baptizaram como "Curveball" confessou pela primeira vez que inventou as informações relativas à existência de um programa de produção de armas de destruição maciça no Iraque. O objectivo era convencer os Estados Unidos a invadir o país e depor o regime de Saddam Hussein.

Numa entrevista exclusiva ao diário britânico "Guardian", o iraquiano Rafid Ahmed Alwan al-Janabi, ou "Curveball", admitiu ter transmitido histórias totalmente falsas sobre fábricas de armas químicas e biológicas clandestinas aos seus contactos ocidentais, no caso aos agentes do serviço secreto alemão BND — que posteriormente partilharam essas informações com os seus congéneres americanos.

“Eu podia estar certo ou podia estar errado. Eles [agentes secretos] deram-me a hipótese de fabricar uma versão da história que podia levar à queda do regime. Eu e os meus filhos estamos orgulhosos por termos sido a razão que deu ao Iraque a margem para a democracia”, disse.

Rafid al-Janabi começou a colaborar com o BND em Março de 2000, na qualidade de engenheiro químico com acesso a informações vitais sobre os programas de armas químicas de Bagdad. “Eu tinha um problema com o regime de Saddam [Hussein], queria-me ver livre dele e ali estava uma oportunidade”, justificou.

Como explicou ao "Guardian", os alemães levaram a sério as informações que ele lhes transmitia, mas deixaram de procurá-lo quando muitas das suas dicas foram desmascaradas por outras fontes. A troca parou até que, no final de 2002, Janabi voltou a ser procurado. Segundo disse, nessa altura já era claro que estava a ser montado um “caso” para justificar a guerra.

Mesmo assim, o espião admitiu ter ficado perplexo quando ouviu o então secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, usar as suas alegações falsas para defender a invasão do Iraque num discurso nas Nações Unidas.

Janabi, que agora vive exilado na Alemanha, diz que não se arrepende do que fez. “Fico muito triste por todas as mortes no Iraque. Mas pergunto: havia outra solução? Acreditem, não havia outra maneira de levar a liberdade ao Iraque”, considerou nesta entrevista.

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