Como vai Obama lidar com a "vaga republicana"

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A reeleição de Obama em 2012 vai decidir-se em função da recuperação, ou não, da economia Kevin Lamarque/Reuters

Ainda não se sabe se vai tratar-se de um marouço ou de um maremoto, mas a "vaga republicana" que se prepara para varrer a América não é a incógnita das eleições intercalares desta terça-feira. O Presidente pode querer colaborar com a nova maioria republicana no Congresso. Ou então resistir-lhe.

A imprevisibilidade da votação já não tem nada a ver com quem vai dominar o Congresso: o que falta perceber é como é que o Presidente Barack Obama vai lidar com o novo clima político em Washington.

Os americanos acreditam nas virtudes de um "governo dividido. A "coabitação" entre um Presidente de um partido e um Congresso dominado pelo partido adversário não é novidade na política dos Estados Unidos - existiu em 38 dos últimos 60 anos. Mas como será ela: pacífica ou tumultuosa? Produtiva ou estéril?

Há meses que as sondagens apontam consistentemente para uma reviravolta no equilíbrio de forças no Congresso. No cenário mais verosímil, o Partido Republicano conquista a maioria dos lugares da Câmara dos Representantes e ganha mais assentos no Senado - não os suficientes, todavia, para roubar a maioria aos democratas de Barack Obama.

A provável eleição de dezenas de congressistas associados ao movimento antigoverno do Tea Party dificulta as previsões dos analistas. Como sublinhava o antigo congressista republicano Tom Davies, numa entrevista à PBS, "o Tea Party traz um elemento de imprevisibilidade à coligação republicana, o que torna o compromisso mais difícil. Estas são pessoas com opiniões muito arreigadas e que não estão dispostas a negociar com o Presidente".

Uma coisa é certa: se antes Washington estava "partido", agora ficará mais ainda. A machadada final na quimera do bipartidarismo foi dada pelo líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, que, questionado sobre os objectivos políticos do seu partido nestas eleições, declarou que eles só querem "fazer de Barack Obama um Presidente de um mandato".

Os republicanos terão à sua disposição uma variedade de instrumentos para "travar" o Presidente. Ao assumir a maioria na Câmara de Representantes, passarão a controlar o processo legislativo, e seguramente vão colocar Obama entre a espada e a parede: ou aceita as suas propostas ou usa o veto. Também podem desgastar a Administração, por exemplo bloqueando as nomeações de figuras- chave (e Obama está em processo de reconstituição da sua equipa governativa depois das saídas de importantes conselheiros económicos e de segurança nacional) ou paralisando a actividade de departamentos governamentais com inquéritos.

Mas há um reverso da medalha. "O Congresso pode ser usado de forma mais eficiente pelo Presidente se for controlado pelo partido adversário. Seguramente que a Casa Branca não vai gostar das investigações que vai ter de enfrentar ou do impasse legislativo que os republicanos vão impor quando assumirem o controlo. Mas vai gostar de ter alguém a quem culpar pelos problemas de Washington", explica o editor de política da ABC News, Rick Klein. De maneira geral, os analistas dizem que Obama tem de pensar no seu futuro político e ponderar qual destas duas alternativas mais lhe convém: colaborar com a oposição, aceitando "moderar" as suas políticas, ou insistir na sua agenda progressiva, denunciado a postura "niilista" dos conservadores. "Não deixem que os progressos dos últimos dois anos sejam postos em causa", apelou Barack Obama, num comício do Partido Democrata em Filadélfia.

No primeiro caso, o exemplo a seguir é o de Bill Clinton, que na sequência das intercalares de 1994 foi forçado a mover-se da esquerda para o centro e a estabelecer compromissos com a nova maioria republicana. Como então, o Presidente e os seus adversários têm incentivos para optar pela cooperação - afinal, os dois campos precisarão de mostrar resultados aos eleitores se quiserem ver renovada a confiança nas eleições de 2012.

Numa entrevista ao National Journal na semana passada, o Presidente reconheceu que o seu partido precisava de "ser mais humilde" em termos de "objectivos a alcançar", e prometeu dedicar mais tempo à negociação de soluções de consenso. Será que o seu partido vai ter isso em conta quando a actividade do Congresso for retomada a 15 de Novembro? Ou os democratas e Obama vão querer aproveitar as suas últimas semanas de maioria - a chamada lame duck session - para concluir os projectos-lei que deixaram pendentes quando os trabalhos pararam para a campanha em Setembro?

O grande teste está marcado para o fim do ano, 31 de Dezembro, a data em que expiram os cortes fiscais para os contribuintes de maiores rendimentos implementados pelo anterior Presidente George W. Bush e que os republicanos querem tornar permanentes (com um custo de quase 4 milhões de milhões de dólares em dez anos, ou seja, mais de metade do défice previsto para 2020).

Obama pode escolher a segunda alternativa e adoptar a postura de Harry Truman, que, confrontado com um Congresso hostil, optou por prolongar o braço-de-ferro e responsabilizar a oposição pelos falhanços do seu Governo - sendo recompensado pelo eleitorado com uma confortável reeleição em 1948.

Independentemente do seu relacionamento com os adversários republicanos, a reeleição de Obama em 2012 vai decidir-se em função da recuperação (ou não) da economia. "Se o sol estiver a brilhar pela manhã no fim do próximo ano, Obama estará na maior. Mas se for noite cerrada e a previsão for de mais chuva, então o seu desafio será muito maior", compara Norman Ornstein, do think tank conservador American Enterprise Institute.

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