Fundos de investimento do Banco Espírito Santo apoiaram financiamento da Ongoing

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O BES já chegou a comprar acções não cotadas da Ongoing Miguel Madeira

O grupo - que detém o Diário Económico, o Semanário Económico e está já a desenvolver operações em Angola e Brasil - está neste momento a negociar a compra de uma posição na Media Capital (TVI).

De acordo com os dados registados a 30 de Setembro na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), cinco fundos da sociedade gestora ESAF (grupo BES) adquiriram cerca 12 milhões de euros de papel comercial da Ongoing, o que constitui um financiamento de curto prazo feito à holding presidida por Nuno Vasconcellos.

Os veículos da ESAF (Plano Crescimento, Plano Prudente, Plano Dinâmico, Rendimento e Rendimento Plus) que foram usados para subscrever a emissão de papel comercial são Fundos Especiais de Investimento (FEI), cujo quadro legal é mais flexível do que aquele que é aplicado aos fundos de investimento tradicionais. E destina-se a nichos de mercado. Os fundos de investimento investem o dinheiro dos clientes dos bancos mediante um contrato de mandato.

Não foi possível apurar se a emissão de papel comercial da Ongoing foi liderada pelo próprio BES. No caso de ter sido, é necessário saber se foi o mesmo banco que a garantiu. Caso se confirmem estas duas hipóteses, então os fundos aplicados na compra do papel comercial da Ongoing, que pertencem aos clientes que adquiriram as unidades de participação, compraram risco BES.

Mas se, pelo contrário, o risco de crédito da operação é exclusivo da Ongoing, falta saber qual o rating da holding presidida por Nuno Vasconcellos, porque, se não existir, o risco da emissão aumenta. Não há também informação sobre quem fez a avaliação, quem aconselhou a subscrição do papel comercial (que são títulos de dívida com prazo até um ano) e quais os critérios aplicados na tomada da decisão.

O PÚBLICO solicitou esclarecimentos - ao BES e à Ongoing - sobre estas questões mas, apesar dos vários contactos estabelecidos com os responsáveis das duas empresas, até ao fecho da edição não obteve respostas.

O banco liderado por Ricardo Salgado investiu entre 140 e 180 milhões de euros na Ongoing, que é também accionista do Grupo Espírito Santo (GES) e grande investidor da Portugal Telecom com representação nos órgãos sociais. O BES é o maior investidor individual da PT com cerca de 10 por cento do capital.

No final de Setembro deste ano, os registos da CMVM revelavam ainda que a ESAF usou FEI para adquirir acções não cotadas da Ongoing, por cerca de 76,6 milhões de euros. Naquela data, o terceiro maior fundo da sociedade gestora, o Fundo Espírito Santo Premium Fei, com uma dotação de 482 milhões de euros, tinha aplicado 7,5 por cento desta verba (37,5 milhões) em títulos da Ongoing. O veículo possuía no final do terceiro trimestre uma liquidez (verba ainda por investir) de 130 milhões de euros, o equivalente a 27 por cento do total. O Espírito Santo Premium FEI foi constituído a 29 de Setembro de 2008.

Já o Rendimento Dinâmico, lançado a 12 de Novembro de 2008, detinha activos de 281 milhões de euros, dos quais 14,5 por cento estavam aplicados em sociedades da Ongoing (40,9 milhões). Este instrumento de investimento possuía no final de Setembro uma liquidez equivalente a 34 por cento da sua dotação global. Ou seja, apesar de ter mandato dos clientes, o fundo não tinha as verbas aplicadas na totalidade.

Uma análise à estratégia de aplicações da ESAF indica que esta utilizou, por vezes, os fundos especiais de investimento para comprar activos onde o grupo presidido por Ricardo Salgado tem posições estratégicas. Entre eles estão a Portugal Telecom (o BES controla 10 por cento do capital da empresa), os Hotéis Tivoli (do GES) ou o banco brasileiro Bradesco, com o qual o BES desenvolveu cruzamento de participações accionistas.

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